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O teatro de Chico Lopes e ACM
FERNANDO RODRIGUES
Brasília - Chico Lopes esteve ontem
com ACM. Acertaram os últimos detalhes do teatro do dia 26, quando o novo presidente do BC será sabatinado
pelo plenário do Senado.
É um teatro. Até hoje, nunca o Senado deixou de referendar o nome de um
presidente do BC.
Isso não importa. Afinal, para azar
do país, não será agora que o Senado
vai se tornar aquilo que deveria ser.
No encontro de ontem, chamou mais
a atenção uma indagação feita por
ACM a Chico Lopes. "Tem uma coisa
que sempre nos perguntam: se esse era
o melhor caminho (deixar o câmbio
flutuar), por que não se fez antes?"
Chico Lopes respondeu com a já conhecida ladainha. Disse que o BC pensava em promover mudanças, mas esperava pelo melhor momento. Como
houve uma emergência, aconteceu.
A resposta de Chico Lopes é uma delícia. De tão repetida ultimamente, logo vai se transformar em verdade.
Mas o governo sabe que não é.
A livre flutuação do câmbio -ou alguma distensão da banda- não foi
adotada no ano passado por causa
das consequências eleitorais ruins que
a ação teria para o governo.
FHC elegeu-se no primeiro turno
com 53,06% dos votos válidos. Foi por
um triz. A Ásia tinha se esfacelado. A
Rússia estava derretendo. E Pedro
Malan vivia repetindo o bordão "o
Brasil não é a Rússia".
É evidente que FHC não teria sido
reeleito no primeiro turno se o real se
desvalorizasse 30% antes da data da
eleição, em 4 de outubro.
E depois de 4 de outubro? Bem, depois dessa data, ainda restavam segundos turnos em 12 Estados e no Distrito Federal. Aliados de FHC precisavam de tranquilidade econômica para
se manter no poder. Assim foi feito.
É óbvio que ACM conhece muito
bem essa história. Por que então fez
uma pergunta tão indiscreta ontem a
Chico Lopes? Resposta: para testar o
tino político do seu interlocutor.
A quem possa interessar: ACM adorou Chico Lopes e a resposta.
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