São Paulo, quarta, 20 de janeiro de 1999

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O teatro de Chico Lopes e ACM

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Chico Lopes esteve ontem com ACM. Acertaram os últimos detalhes do teatro do dia 26, quando o novo presidente do BC será sabatinado pelo plenário do Senado.
É um teatro. Até hoje, nunca o Senado deixou de referendar o nome de um presidente do BC.
Isso não importa. Afinal, para azar do país, não será agora que o Senado vai se tornar aquilo que deveria ser.
No encontro de ontem, chamou mais a atenção uma indagação feita por ACM a Chico Lopes. "Tem uma coisa que sempre nos perguntam: se esse era o melhor caminho (deixar o câmbio flutuar), por que não se fez antes?"
Chico Lopes respondeu com a já conhecida ladainha. Disse que o BC pensava em promover mudanças, mas esperava pelo melhor momento. Como houve uma emergência, aconteceu.
A resposta de Chico Lopes é uma delícia. De tão repetida ultimamente, logo vai se transformar em verdade. Mas o governo sabe que não é.
A livre flutuação do câmbio -ou alguma distensão da banda- não foi adotada no ano passado por causa das consequências eleitorais ruins que a ação teria para o governo.
FHC elegeu-se no primeiro turno com 53,06% dos votos válidos. Foi por um triz. A Ásia tinha se esfacelado. A Rússia estava derretendo. E Pedro Malan vivia repetindo o bordão "o Brasil não é a Rússia".
É evidente que FHC não teria sido reeleito no primeiro turno se o real se desvalorizasse 30% antes da data da eleição, em 4 de outubro.
E depois de 4 de outubro? Bem, depois dessa data, ainda restavam segundos turnos em 12 Estados e no Distrito Federal. Aliados de FHC precisavam de tranquilidade econômica para se manter no poder. Assim foi feito.
É óbvio que ACM conhece muito bem essa história. Por que então fez uma pergunta tão indiscreta ontem a Chico Lopes? Resposta: para testar o tino político do seu interlocutor.
A quem possa interessar: ACM adorou Chico Lopes e a resposta.



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