São Paulo, segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

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DE NOVO, ABU GHRAIB

São despropositadas as invectivas do Pentágono contra a rede de TV australiana que divulgou novas e aviltantes cenas de prisioneiro iraquianos em Abu Ghraib sofrendo maus-tratos por parte de seus captores norte-americanos.
É verdade, como declarou o porta-voz do Departamento da Defesa Bryan Whitman, que as imagens podem "inflamar e talvez incitar desnecessariamente a violência no mundo, colocando em perigo nossos militares [dos EUA] que servem no exterior". Também é certo que as tomadas surgem num momento delicado, poucos dias depois da divulgação de cenas de jovens iraquianos sendo espancados por soldados britânicos em Basra e em meio à crise deflagrada pelas charges dinamarquesas, que despertou uma onda de selvageria em vários países muçulmanos.
A questão é que não cabe à imprensa desempenhar o papel de polícia global ou de zelar pela segurança de soldados. A melhor contribuição que veículos de comunicação podem dar à sociedade é manter as pessoas informadas, em especial acerca das ações de seus governantes.
As novas imagens de prisioneiros iraquianos sendo humilhados por militares dos EUA são, por qualquer ângulo que se analise, notícia digna de ser divulgada. O mundo em geral, e os americanos em particular, precisam saber o que acontece nos bastidores da invasão que livraria os iraquianos de um ditador e os faria experimentar as delícias da democracia e do respeito aos direitos humanos.
Numa atitude que se assemelha mais à de tiranos da Antigüidade do que à de dirigentes de um dos berços da democracia, o governo de George W. Bush prefere atacar o mensageiro das más notícias em vez das reais causas de seus problemas. Se Bush não deseja ver imagens de que possam despertar a fúria de muçulmanos contra os EUA, então deveria cuidar para que seus militares não maltratem prisioneiros iraquianos.


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