|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DE NOVO, ABU GHRAIB
São despropositadas as invectivas do Pentágono contra a
rede de TV australiana que divulgou
novas e aviltantes cenas de prisioneiro iraquianos em Abu Ghraib sofrendo maus-tratos por parte de seus
captores norte-americanos.
É verdade, como declarou o porta-voz do Departamento da Defesa
Bryan Whitman, que as imagens podem "inflamar e talvez incitar desnecessariamente a violência no mundo,
colocando em perigo nossos militares [dos EUA] que servem no exterior". Também é certo que as tomadas surgem num momento delicado, poucos dias depois da divulgação
de cenas de jovens iraquianos sendo
espancados por soldados britânicos
em Basra e em meio à crise deflagrada pelas charges dinamarquesas,
que despertou uma onda de selvageria em vários países muçulmanos.
A questão é que não cabe à imprensa desempenhar o papel de polícia
global ou de zelar pela segurança de
soldados. A melhor contribuição que
veículos de comunicação podem dar
à sociedade é manter as pessoas informadas, em especial acerca das
ações de seus governantes.
As novas imagens de prisioneiros
iraquianos sendo humilhados por
militares dos EUA são, por qualquer
ângulo que se analise, notícia digna
de ser divulgada. O mundo em geral,
e os americanos em particular, precisam saber o que acontece nos bastidores da invasão que livraria os iraquianos de um ditador e os faria experimentar as delícias da democracia
e do respeito aos direitos humanos.
Numa atitude que se assemelha
mais à de tiranos da Antigüidade do
que à de dirigentes de um dos berços
da democracia, o governo de George
W. Bush prefere atacar o mensageiro
das más notícias em vez das reais
causas de seus problemas. Se Bush
não deseja ver imagens de que possam despertar a fúria de muçulmanos contra os EUA, então deveria cuidar para que seus militares não maltratem prisioneiros iraquianos.
Texto Anterior: Editoriais: O PÚBLICO DA USP Próximo Texto: São Paulo - Vinicius Torres Freire: Justiça a torto e a direito Índice
|