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CARLOS HEITOR CONY
As estátuas falam
RIO DE JANEIRO - Não sei, parece
que foi nada menos do que Freud o
primeiro a tentar descobrir o que o
"Moisés" de Michelangelo estaria falando ou sentindo quando foi imortalizado naquele formidável mármore que se encontra em Roma, na igreja de São Pedro in Vinculis.
Freud dizia que Moisés acabara de
descer o monte Sinai, onde recebera
as tábuas da lei diretamente do Senhor. Encontra seu povo, que ele salvara do cativeiro e conduzia à Terra
da Promissão, numa orgia pagã. Liderados por seu irmão, Aarão, aproveitando a ausência do líder, estão
adorando não o Deus que os tirou do
cativeiro, mas um Bezerro de Ouro.
Moisés quebrou as tábuas (mais
tarde providenciaria outras), botou a
mão no estômago -sinal que para
Freud era de cólera e angústia. Disse
um palavrão, provavelmente em aramaico ou língua assemelhada, que
Freud não ousou adivinhar.
Ainda em Roma, no centro da
Piazza Navona, a fonte dos Quatro
Rios, de Bernini, tem em destaque
um personagem apavorado, com o
braço protegendo o rosto e a cabeça.
Dizem os romanos que o gesto desesperado é por causa da igreja em frente, Santa Inês em Agonia, obra de
Borromini, o grande rival de Bernini,
que só sossegou quando convenceu o
papa a expulsar o desafeto para Viena. Bernini garantia que a igreja de
Borromini desabaria em cima de sua
fonte.
No Rio, havia duas estátuas que
também falavam. Chopin andou uns
tempos em frente ao nosso Teatro
Municipal, parecia estar ouvindo
música, mas parecia também estar
tampando um dos ouvidos. Diziam
que ele protestava contra um pianista que ali dava concertos.
Ainda no Rio, Floriano Peixoto
tem uma estátua eloqüente. Está no
topo de um grupo complicado, tendo
na base personagens diversificados,
alguns da vida real, políticos, militares, índios, outros alegóricos. O Marechal de Ferro olha com ferocidade
para baixo e brande sua espada num
gesto autoritário. É evidente que está
gritando: "Ninguém mais sobe!".
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