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CLÓVIS ROSSI
Sobra algum?
SÃO PAULO - Um dia, o leitor
acorda e vê o título: "Governador da
Paraíba é cassado". Pensa: bom, depois de 509 anos, começa a ser combatida a corrupção na política.
Mal tem tempo de ser feliz, pois
logo descobre que o substituto do
governador cassado, o até então senador José Maranhão (PMDB),
responde a oito processos no TSE.
Para fechar o círculo, fica também sabendo que o substituto de
Maranhão no Senado, Roberto Cavalcanti (PRB), enfrenta pelo menos duas ações penais na Justiça,
sob acusação de ter causado prejuízos aos cofres públicos.
Calma que, para fechar o círculo,
ainda entram as duas grandes estrelas do tucanato no momento,
Aécio Neves e José Serra.
A reação de Serra seria hilária,
não fosse ridícula. "Causa estranheza a celeridade do processo" [o que
derrubou Cássio Cunha Lima], palpitou o governador paulista.
Celeridade, cara pálida? O rapaz
cometeu, segundo a Justiça, um crime eleitoral em 2006, usufruiu durante dois anos e dois meses do produto de seu crime (o governo do Estado da Paraíba) e Serra ainda acha
que o processo foi célere?
Queria o quê? Que a Justiça tardasse mais dois anos antes de decidir cassá-lo, para que pudesse concluir o mandato na mansidão a que
os políticos se habituaram, quaisquer que sejam as acusações e processos a que respondam?
Aécio não foi muito mais feliz.
Sua frase: "Não conheço obviamente a profundidade das acusações
que levaram à perda do seu mandato, mas eu conheço o trabalho e a
correção do governador Cássio".
Se não conhece a "profundidade"
das acusações, como pode jurar pela "correção" do correligionário
cassado? Se o cassado fosse de outro partido, mereceria a mesma absolvição plena e irrecorrível?
Depois ainda reclamam do descrédito dos políticos.
crossi@uol.com.br
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