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SEM FATO CONSUMADO
Criar fatos consumados tem
sido infelizmente um caminho
fácil para burlar leis de zoneamento e
normas de convivência nas cidades
brasileiras. Diante da omissão ou da
cumplicidade do poder público, pessoas ou grupos estabelecem construções ou atividades em desacordo
com a lei, contando que mais tarde
elas sejam regularizadas. É esse tipo
de prática nefasta que a Prefeitura de
São Paulo irá endossar se for levada
adiante a legalização do comércio
nos corredores de uso especial.
Em evento na terça-feira, a prefeita
Marta Suplicy declarou-se a favor de
que seja legalizada a atividade comercial nessas áreas, mesmo com a
proibição estabelecida pela Lei de Zoneamento. "Eu sou do tempo real.
Acho que o que está estabelecido tem
que ficar", disse a prefeita.
O raciocínio segue a mesma linha
do projeto do ex-vereador José Mentor (PT) que concede "anistia provisória" ao comércio dos corredores. A
proposta foi aprovada em primeira
votação, em janeiro, apesar de protestos das associações de moradores, mas ainda será submetida a nova
apreciação da Câmara Municipal.
Uma das características de São
Paulo é a desorganização urbanística. A causa fundamental dessa situação lamentável é a falta de uma cultura de punição para os infratores. As
leis devem ser cumpridas de forma
transparente, atingindo indistintamente moradores de todas as regiões
da cidade. Apenas quem cumpre as
regras em toda a sua formalidade
tem condições de exigir que o governo municipal faça a sua parte, sob a
forma de serviços que vão da saúde à
limpeza urbana.
O PT, que na oposição sempre defendeu uma fronteira clara entre os
interesses públicos e os privados, está devendo coerência à frente da prefeitura paulistana. Diferentemente
do que reclamou a prefeita, não se espera que os problemas históricos de
São Paulo sejam resolvidos em um
passe de mágica, mas que se construa um novo paradigma que torne a
cidade mais civilizada.
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