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CARLOS HEITOR CONY
Meninges avariadas
RIO DE JANEIRO - Nos anos mais antigos do passado -e já naquela época não entendia o mundo-, sempre
que se esbarrava com um tipo estranho, com idéias igualmente estranhas, não com um louco, desses que
fazem discursos cheios de som e fúria
que nada significam, mas simplesmente com um desequilibrado mental, comentava-se em voz baixa: "Ele
teve meningite em criança!".
Era uma explicação, um diagnóstico fácil de ser comprovado. Quem
não morria de meningite ficava avariado para o resto da vida. As meninges inflamadas impediriam que ele
pensasse e agisse dentro dos padrões
da normalidade.
As últimas aparições do presidente
George W. Bush nas telinhas de todo
o mundo revelam que suas meninges,
se não estão avariadas por uma infecção infantil, estão cansadas,
exaustas pela dura vida de adulto e
de presidente de uma grande nação.
O resultado é o mesmo. Com as meninges avariadas, qualquer um faz e
diz coisas absurdas, como fez Bush
na última segunda-feira, quando
mandou que Saddam Hussein e sua
família saíssem do Iraque, na base do
"ponha-se lá fora!". Caso contrário,
suas tropas chegariam a Bagdá e o
ditador local, se não fosse morto na
hora, seria colocado numa jaula e
exibido como aberração da natureza
nos principais jardins zoológicos dos
Estados Unidos.
Segundo Bush, a profilática operação dará democracia ao povo iraquiano, a mesma democracia que os
Estados Unidos ajudaram a suprimir
durante anos em tantos países, inclusive o Brasil.
Tampouco importa que a boa ação
de Bush tenha um altíssimo custo de
vidas humanas nos dois lados da
guerra. E que não apenas ameace a
já ameaçada economia mundial mas
crie motivações e condições para novos atentados que poderão fazer o
World Trade Center parecer uma encenação inocente produzida para um
próximo filme de Spielberg.
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