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FERNANDO GABEIRA
Crise e magia
RIO DE JANEIRO - É difícil prever o futuro. Ainda mais o futuro da
crise. O governo afirma que o país
vai crescer em 2009. Algumas agências dizem que vai encolher. Lula
responde a elas, lembrando que os
bancos erraram sobre si próprios.
Por que não errariam agora? Tem
razão. Acontece que não são apenas
agências tipo Stanley Morgan que
preveem um recuo.
O tempo resolverá a divergência.
Sempre que se menciona a crise
econômica por aqui, acrescenta-se
a expressão "de origem externa". A
crise se originou nos Estados Unidos. Mas os norte-americanos não
foram os únicos atores na economia
global. O comércio cresceu, e os
ventos favoráveis impulsionaram
os barcos nacionais. Representamos o crescimento brasileiro como
algo que dependeu apenas do governo, de um esforço endógeno.
A crise é externa e não sistêmica.
Logo somos vítimas da crise. Quando se tratava de crescimento, nossos eram os méritos; quando se trata de estagnação, deles é a culpa.
O governo não inventou essa forma política de reagir, desconectando fios. Ela é famosa no esporte e foi
sintetizada numa frase atribuída ao
técnico Yustrich: "Eu venço, nós
empatamos, vocês perdem".
Quando falamos de gastos públicos, somos considerados reacionários. O Senado tem 181 diretores.
Há anos, afirmo ser possível cortar
quase metade dos gastos no Congresso, sem perda de eficácia. O que
vão fazer diante da onda, que esperam passageira? Criar mais uma diretoria, a de racionalização?
A Fundação Getúlio Vargas vai
fazer um plano. Os 181 não conseguem sozinhos um contato com a
realidade. No futuro, a fundação será a culpada. O país só aceita tudo
isso porque os curandeiros nos convencem de que nossos males estão
fora de nós: feitiço, macumba e mau
olhado.
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