São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2005 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES As cores do espetáculo
CRISTIANO AVILA MARONNA
A discriminação e o preconceito ancestrais são um flagelo que se manifesta em todo o mundo. Todos devemos repudiar o racismo, deplorável sob qualquer aspecto. O que não dá para aceitar é a histeria, o frenesi e, especialmente, a hipocrisia espetacularizada. O episódio dá azo a pelo menos duas reflexões. A primeira, e mais importante, diz com o encaminhamento da questão. As violências e arbitrariedades perpetradas dão a impressão de que, de uma hora para a outra, como em um surto psicótico coletivo, a punição antecipada passou a significar a solução de todos os males que afligem a lavoura nacional. Algema no irmão, digo, "hermano!". Lincha! E a torcida vibra. Olé! A súbita epidemia de falta de bom senso foi atenuada pela intervenção de um juiz de direito branco. Mas um branco de rara sensibilidade. Que compreende, na sua integralidade, o sagrado papel do juiz como garante dos direitos fundamentais. De todos. Negros, brancos, amarelos e vermelhos. De qualquer pátria: somos todos apátridas (mas não afrátridas), reunidos pelo elo comum e recíproco da eminente dignidade humana. Salve a diversidade e o multiculturalismo! Pertencemos todos à grande família humana, composta de seres imperfeitos. De todas as cores. E todos, sem exceção, temos direito à proteção contra o abuso do poder estatal. Em um momento de catarse coletiva, é tranqüilizador saber que um juiz de direito, com voz eloqüente, fez prevalecer o império da lei. Prisão cautelar, só quando comprovadamente indispensável. Queimar hereges na fogueira caiu em desuso, para descontentamento de uns certos alguns. A Justiça só pode ser feita com um mínimo de serenidade, de equilíbrio. De imparcialidade. A presunção de inocência nasceu para todos, inclusive estrangeiros. Do contrário, liberticídio. Um outro aspecto que merece reflexão é o modo como a mídia transforma o drama em novela. Os mercadores da miséria humana dançaram ao ritmo do tango argentino. Os vocalizadores da consciência nacional ferida, tais quais bustos falantes, vociferam a uma só voz: "Caterva de lunfardos", "boludos". "Argentinos racistas." E dá-lhe Brasil, il, il... No fim, remédio para as conseqüências. Causas intocadas. "The reality show must go on." Ah, já ia me esquecendo: para não passar em branco, abaixo o preconceito. Dentro e fora de campo. Cristiano Avila Maronna, 35, advogado, mestre e doutorando em direito penal pela Faculdade de Direito da USP, é sócio de Maronna, Stein e Mendes Advogados, escritório responsável pela defesa de Leandro Desábato. @ - maronna@msm.adv.br Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Denis Lerrer Rosenfield: Ratzinger e Bento 16 Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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