São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

A luta continua

BRASÍLIA - As lutas, aliás, continuam. A do governo do PT para aprovar o mínimo para o mínimo na Câmara já na terça-feira e a luta interna estrelada agora pelos ex-líderes estudantis José Dirceu (PT) e Aldo Rebelo (PC do B) pela coordenação política. Palocci fica só espiando.
Na vitória, todos querem aparecer na foto. Na derrota, fica o empurra-empurra para apontar o culpado. Mas a balança Dirceu ganhou x Aldo perdeu não faz sentido. Afinal, o governo de ambos sofreu sua maior derrota na votação do mínimo. Como dizer que Dirceu ganhou se o governo dele perdeu? A não ser que ele tenha jogado contra e seja o verdadeiro traidor do Planalto. Ao que tudo indica, não é. Ou ainda não é.
Governos perdem votações, e oposição nem sequer tem obrigação de ganhar. O que mais importa no placar de 44 a 31 contra o Planalto na semana passada é a constatação cristalina de que, independentemente de erros e de quem é mais culpado ou menos, o governo foi pego de calça curta no Senado. Ali ele não tem maioria. Não tem e nunca teve.
Enquanto o governo era novinho em folha, as metáforas de Lula ainda tinham graça, e as reformas eram meio consensuais. Tudo bem. Depois de Waldomiros, do PIB negativo e das brigas internas, o desgaste aflorou e expôs a realidade de uma base quantitativamente apertada e qualitativamente duvidosa.
Se, na Câmara, o PT é a primeira bancada, no Senado é apenas a quarta, com 13 das 81 cadeiras. Com o acréscimo de que se trata de uma Casa de cobras criadas (Sarney, ACM, Bornhausen, Arthur Virgílio, Renan...), enquanto os petistas são na maioria novatos (Ideli, Serys, Ana Júlia, Sibá, Delcídio, Cristovam...). Além de nem sempre fiéis.
Ou o governo se reorganiza e reavalia quem é quem ou vai sofrer derrota atrás de derrota. Depois, não adianta chorar o leite derramado e os R$ 2 bi a mais para bancar o mínimo de R$ 275. Nem botar a culpa em Aldo Rebelo. Até porque a verdadeira disputa de poder é mais em cima. Rebelo só leva a rebarba.


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