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CARLOS HEITOR CONY
Cadê o azul?
RIO DE JANEIRO - Não se trata
de fobia ao verde e amarelo, mas
sinto falta do azul. Deve ser culpa
daquele verso de Castro Alves, "auriverde pendão da minha terra",
que um concurso por aí promoveu a
verso mais bonito da literatura brasileira. Houve também o movimento verde-amarelo, de literatos que
mais tarde tomaram rumos diferentes, alguns deles se tornando comunistas -e outros, integralistas.
Mas sempre me pergunto: cadê o
azul? Nossa bandeira, como a do
Fluminense, a do São Paulo, a da
França, a da Itália e a de outros clubes e pátrias, é escancaradamente
tricolor. Tem uma faixa e estrelas
brancas, mas são acessórios: o visual que vemos e sentimos é mesmo
tricolor, o azul se destacando tanto
ou mais do que o amarelo.
Em tempos de Copa do Mundo, o
verde-amarelo simplifica as coisas,
mas, como toda e qualquer simplificação, torna-se simplório. Além do
mais, há outras bandeiras que têm o
mesmo verde e o mesmo amarelo,
mas nenhuma delas traz o azul do
nosso céu sereno, imaculado etc.
etc. -tal como antigamente aprendíamos no curso primário.
Não tenho vontade nem tempo
para promover uma campanha que
reabilite o azul, integrando-o às
nossas cores nacionais, obrigatórias e facultativas, como nas torcidas pelo Brasil durante as Copas.
Acho que o azul melhoraria o nosso
visual cívico e esportivo. Estou fatigado de ver na TV, nas ruas e nos caminhos, sobretudo na publicidade,
as duas cores que retratam a beleza
sem par de nossas matas e a riqueza
de nosso subsolo cheio de ouro
-ouro que, segundo os ufanistas,
não acabaria jamais.
Nossas verdes matas estão sendo
devastadas, e o amarelo do ouro foi
parar em Portugal e na Inglaterra.
Sobrou-nos, afinal, o azul do céu,
um céu nem sempre sereno, mas
sempre azul, a menos que venha
uma borrasca.
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