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CLÓVIS ROSSI
Piscou
SÃO PAULO - Viu como às vezes
funciona a pressão da opinião pública? O presidente do Senado, José
Sarney, aquele que dizia que a crise
não é dele, mas do Senado, piscou
três vezes.
Primeiro, na entrevista que concedeu à Folha. Não funcionou. Depois, em discurso no plenário da
Casa. Não funcionou. Ontem, deu a
piscadela definitiva ao anunciar algumas tímidas medidas para escapar do imbróglio em que ele e o Senado se meteram.
É pouco? É. Pode nem ir adiante
se a mídia se distrair? Pode. Pode
acontecer de serem punidos apenas
funcionários, graduados ou nem
tanto, em vez de senadores, especialmente os graúdos? Pode
Mas é mais do que o "não sei",
"não vi", "não há atos secretos"
(embora os atos tampouco sejam
públicos).
Limpar a política brasileira, mesmo que seja um tiquinho, só se fará
assim, na pressão, na marcação individual. Para o meu gosto, aliás, a
incrível sucessão de escândalos
deste ano, tanto no Senado como
na Câmara, demandaria no mínimo
uma marcha como a que se fez anteontem em São Paulo contra a reitora da USP e contra a presença da
polícia no campus.
Não estou dizendo que a reitora
seja farinha do mesmo saco dos políticos ou que a manifestação tenha
sido de anjos impecáveis. Não. O
que estou dizendo é que, ou a maioria assume de uma boa vez que a
rua é onde se marcam posições e se
buscam soluções, ou ficaremos
eternamente resmungando na internet contra os maus políticos, os
baderneiros e por aí vai.
Entendo perfeitamente a dificuldade de organizar manifestações
contra os senadores. Não há um só
grupo partidário que esteja disposto a encabeçá-las ou ao menos
aderir a elas.
E a sociedade civil parece atordoada, incapaz de reagir a não ser
teclando, em casa mesmo, o e-mail
de alguém para desovar o seu protesto, que cairá no silêncio.
crossi@uol.com.br
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