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FERNANDO RODRIGUES
Kassab, uma novidade
BRASÍLIA - Qualquer um seria
classificado de insano há uma década se falasse na viabilidade de um
prefeito do PFL na cidade de São
Paulo. Um pefelista eleito contra
candidatos fortes do PT e do PSDB
era algo também impensável.
Haveria risco de internação em
um hospício de quem arriscasse dizer que um prefeito filiado ao partido descendente da Arena, base da
ditadura militar, não só comandaria São Paulo como colocaria na internet os nomes e os salários de todos os servidores.
Gilberto Kassab, do Democratas
(sigla sucessora do PFL e da Arena),
é esse personagem. É difícil saber se
o prefeito se tornará mais popular
com a decisão de divulgar a relação
completa dos 162 mil servidores
municipais paulistanos -com o
respectivo salário de cada um. Também ainda há dúvida se a Justiça
manterá os dados liberados. Mas a
atitude do "demo" inaugura uma
nova época de transparência nas
contas públicas do país.
Nenhum dos Três Poderes em nível federal oferece esse tipo de
abertura. Um presidente da República, Fernando Collor, foi eleito
em 1989 para combater marajás.
Nada avançou. No Senado, premido
por uma crise moral, já há a intenção de copiar a medida adotada pela
Prefeitura de São Paulo.
É possível, dizem os adversários,
que a atitude de Kassab tenha alguma intenção ainda oculta e não tão
nobre. O site com os dados divulgados também é um pouco desorganizado, impedindo o cruzamento automático de dados -por exemplo,
listar de uma vez quem recebe acima de determinado valor.
Os óbices existem. Mas nada supera o efeito profilático de expor tudo à luz do Sol. Se a Justiça der vida
longa a essa abertura, uma nova ferramenta para o exercício da cidadania estará na praça. Por paradoxal
que possa parecer, o responsável terá sido o mais improvável dos partidos, o Democratas.
frodriguesbsb@uol.com.br
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