São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Banco de dados

RIO DE JANEIRO - Não creio que seja apurada a responsabilidade pelo vazamento da CPI do Banestado. Na melhor das hipóteses, surgirá um funcionário do Congresso ou mesmo um congressista já caído em desgraça dentro de seu próprio partido -e teremos um bode expiatório que livrará a cara dos interessados em divulgar a lista dos que mandaram dinheiro para fora irregularmente.
Quando há um crime, pergunta-se em primeiro lugar a quem o crime poderia interessar. É o elementar em qualquer investigação, policial ou política. No caso do Banestado, suspeita-se que o principal interessado seja o PT, e, por tabela, o próprio governo.
Verdade seja dita: nem sempre governo e PT são a mesma coisa. Lula se elegeu e governa com o apoio de um respeitável saco de gatos. Mas, nas jogadas de longo alcance eleitoral, PT e governo se confundem. Reeleger Lula é prioridade máxima tanto do partido como do Planalto como um todo.
A militância do PT sempre foi eficiente nesta busca de dados e informações. No caso do impedimento de Collor, não fosse a competência daqueles que trouxeram cheques e contas bancárias para abastecer o Congresso e a mídia, certamente Collor teria terminado o mandato em paz.
Esse foi o caso mais visível da eficiência dos quadros petistas em municiar as investigações que deixam mal seus adversários eventuais ou permanentes. Quem trabalhou na mídia durante aquela crise bem sabe de onde surgiam os dados que provavam a malignidade do esquema PC e outras mumunhas que terminaram com o afastamento de Collor.
Bem verdade que a militância não tem a empolgação daquele tempo, afinal, Lula chegou lá limpamente. Mas, sempre que há oportunidade para desclassificar adversários, o PT recorre a seu banco de dados. Feito o estrago, entrega um bode qualquer ao sacrifício -geralmente nem isso.


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