São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Nem inferno nem céu

BRASÍLIA - Com a eleição claramente se definindo pró-Lula, é hora de algumas reflexões sobre o processo, em especial sobre o segundo turno.
Cientistas políticos, historiadores e sociólogos dos dois lados consideraram "um luxo" ter Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e José Serra, do PSDB, na final de uma eleição presidencial no Brasil. Ambos têm história, partidos, aliados, estofo político.
Eleições são aguerridas. Num segundo turno, nem se fala. E o erro que se comete hoje é o de recuperar o maniqueísmo de 1989. O mundo não é mais o mesmo, o Brasil também não, nem José Serra é Fernando Collor, e até Lula não é mais o mesmo.
O segundo turno está, até agora, dentro dos limites de uma boa campanha, disputada, brigada, sofrida. Sem demônios, sem santos.
Os petistas aproveitaram-se bem do vínculo de Serra com o governo e venderam a tese de que é o pior governo das galáxias. Isso não é "terrorismo eleitoral". É apenas campanha.
Os tucanos aproveitaram-se dos flancos de Lula e da sensação de insegurança que se mescla à esperança da guinada para o PT. Também não é "terrorismo eleitoral". É campanha.
Tanto quanto há muitos (a maioria) que não gostam do governo, há também muita gente (e não é pouca) que tem medo do PT. É legítimo usar esses sentimentos. A isso se chama estratégia de campanha.
O que não é justo é a patrulha. Nem o PT é o mal e Serra o bem, nem o PT é bonito, limpo, saudável e ético e tudo o que é pró-Serra é feio, sujo e deve ter roubalheira. Esse maniqueísmo é de 1989, não de 2002.
Se Regina Duarte sempre foi tucana assumida, por que não deveria expor-se, assumir a estratégia política do seu candidato e dizer o que pensa?
Os dois times entraram com garra, legitimidade, discursos e com o que há de melhor e de pior na política brasileira. Porque era para ganhar, como o PT aprendeu em três derrotas.
Estas eleições não são um inferno. Nem o próximo governo será o céu.



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