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CARLOS HEITOR CONY
Paixão segundo Sabino
RIO DE JANEIRO - Boa a repercussão da morte de Fernando Sabino na imprensa. Mais que merecida. Contudo,
na maioria das notas publicadas,
houve a reincidência de uma crítica
profundamente injusta ao fato de Sabino ter escrito um livro cujo personagem principal era a ex-ministra
Zélia Cardoso de Melo.
Na ocasião, atribuíram ao escritor
a intenção de ganhar dinheiro com
um tema badalado. Acontece que os
direitos autorais do livro foram doados a uma entidade, da mesma forma que o Prêmio Machado de Assis,
que Sabino recebeu pelo conjunto de
sua obra, em 1999, também foi doado
a uma associação que cuida, se não
estou enganado, do menor carente.
O que magoou Sabino e seus amigos não foi isso. A imprensa em geral,
e a crítica em especial, malharam o
livro por ter dado dimensão literária
ao caso de amor vivido pela ex-ministra, já nos estertores do governo
Collor.
Nada mais injusto e obtuso. Sabino
sentiu naquele drama matéria de romance da vida real, do cotidiano que
todos vivemos e no qual ele sempre se
inspirou para sua obra de romancista e cronista. Nenhum propósito de
bajulação. Quem conheceu Sabino ficou perplexo com a insinuação descabida, levantada por alguns críticos
e resenhistas.
Muito menos uma defesa da gestão
de Zélia no Ministério da Fazenda,
que incluiria a defesa do confisco da
poupança que tanto irritou o país inteiro. O livro de Sabino tem como
ponto de partida e chegada a história
da moça solteira e bonita que se apaixona por um homem mais idoso e casado. E paga um preço bem alto pela
sua paixão. Paixão que pode ser vivida por uma comerciária, uma secretária, uma recepcionista e, por que
não?, por uma ministra de Estado.
Sabino trairia a sua condição de romancista se, ao captar a matéria que
a vida nacional lhe oferecia, deixasse
de escrever o que sentia e queria. E o
fez, como sempre, com alta qualidade
literária.
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