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ANTONIO DELFIM NETTO
A China e os outros
O mundo vive um momento
muito delicado. De um lado, é
evidente que estamos caminhando para o que o ministro
Mantega chamou de "guerra
cambial", estimulada pela necessária desvalorização do dólar americano, acompanhada
por um tremendo peso "vivo",
que é a rigidez da moeda chinesa, o yuan, em relação a ele.
Em termos de paridade do
poder de compra de 2009, a
economia da China é da ordem de 12,5% do PIB mundial.
Como é evidente, se o yuan
realmente flutuasse, o ajuste
do dólar teria de ser muito menor, e a acomodação do mundo, menos custosa.
De outro, o governo chinês
primeiro nega que o yuan esteja "desvalorizado" (mas acha
que o dólar está!) e, depois, faz
um apelo "humanitário": se
ele valorizar o yuan, muitas
empresas falirão e muitos chineses ficariam desempregados e teriam de voltar para o
campo, criando uma instabilidade social incontrolável num
país com 20% da população do planeta!
Eis o dilema cruel: ou os outros 80% da população mundial se conformam em sacrificar o seu crescimento e bem-estar para manter o Partido
Comunista Chinês no "controle" das tensões sociais crescentes, ou ele deve ser constrangido a seguir as boas normas de convivência internacional (ajustando sua política
cambial e reduzindo seus subsídios à exportação, por meio de medidas claras e transparentes).
Não se trata de um problema político. É preciso convencer a China de que, com os recursos e a tecnologia hoje disponíveis, o mundo não tem como acomodar seu crescimento de 9% ou 10% ao ano
por muito mais tempo, à custa de violação das boas regras de convivência econômica internacional que atingem os outros.
Trata-se, no fundo, de um problema moral e físico.
Todos torcemos para que a
China cresça à maior taxa possível e atenda com a maior rapidez às necessidades de sua
população. Desde que o faça
dentro das mesmas limitações
impostas a todas as outras nações: sem truques nem artifícios que lhe permitam continuar a resolver seus problemas transferindo-os para seus parceiros.
É preciso reconhecer (e invejar!) a competência da administração chinesa e como
ela aproveitou sua simbiótica
relação com as empresas americanas, às quais os EUA abriram o seu mercado por motivos estratégicos. Ela é hoje a
segunda economia mundial e
a primeira exportadora. Tem
um mercado interno cuja expansão é o sonho de todo investidor. É isso o que lhe dá a
arrogância com que trata as
dificuldades dos outros.
O pequeno problema é que
ela, cada vez mais, precisará
do altruísmo... deles!
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
contatodelfimnetto@terra.com.br
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