|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CASADOS E SOLTEIROS
O poeta alemão Karl Theodor
Körner (1791-1813) certa vez
escreveu: "O bom casamento é um
eterno noivado". Essa pode ser uma
das explicações para a queda dos casamentos formais (civis) no Brasil
aferida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A redução nos enlaces oficiais é
persistente. Ela vem desde 1991,
quando foram registradas 7,5 uniões
legais por mil habitantes (maiores de
15 anos), e parece ter-se estabilizado
nos anos 2001 e 2002, quando a taxa
de nupcialidade ficou em 5,7 por mil.
Ao que parece, mudanças culturais
e também legais contribuíram para o
fenômeno. Em primeiro lugar, é preciso registrar que a queda nos casamentos oficiais não indica necessariamente que o brasileiro não esteja
se unindo de modo informal. Ao
contrário, dados do Censo mostram
um importante crescimento das
uniões consensuais em 2000 em
comparação com 1991.
Num ambiente de maior liberdade
sexual, pessoas têm preferido morar
com seus companheiros antes de
comprometer-se de forma mais definitiva através de um contrato de casamento. Essa experiência de "noivado
permanente", que não deixa de ser
um sinal de maturidade dos casais de
hoje, seria mais difícil algumas décadas atrás, quando a moral vigente
praticamente exigia que as pessoas
se casassem antes de viver juntas. Foi
fundamental para essa transformação, além da maior tolerância sexual,
a chegada da mulher ao mercado de
trabalho, num contexto de maior urbanização e relativização religiosa.
Outro fator importante é a Constituição de 1988, que, na esteira das
transformações sociais, equiparou a
união estável ao casamento. Hoje,
para efeitos previdenciários, fiscais e
sucessórios, dá praticamente no
mesmo casar-se ou não. Já não há estímulos oficiais à conversão do "morar junto" em casamento.
Ao menos do ponto de vista da lei,
casamento e eterno noivado são quase sinônimos.
Texto Anterior: Editoriais: A AMEAÇA DE SHARON Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: De quem mesmo é a política? Índice
|