São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 1998

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CRASH DO PETRÓLEO

Nem o ataque dos EUA ao Iraque teve o condão de inflar um pouco os preços do petróleo, que haviam sofrido queda recorde, ficando em torno dos US$ 10 o barril já há dias.
Alguns observadores já se referem a um "crash" no mercado de petróleo. É um fenômeno tão perigoso quanto os que ocorrem em outros mercados financeiros. E, também nesse caso, as maiores vítimas podem ser as economias em desenvolvimento, algumas dependentes das exportações de petróleo e outras matérias-primas.
Em tese, um cenário econômico de redução global nas taxas de juros seria favorável a um aumento nos preços desses produtos. Quando se espera uma recuperação da economia, o roteiro mais provável é um aquecimento da procura por matérias-primas, bens intermediários e energia. Não é o que ocorre hoje. As reduções nos juros têm mais o papel de evitar uma paralisia nos circuitos de crédito e amortecer as tendências recessivas, mas não bastam para provocar a retomada do crescimento.
Ao contrário, os prognósticos apontam em sua maioria para um crescimento menor da economia global. Naqueles países em que o petróleo é decisivo, como Rússia, México ou Venezuela, além do Oriente Médio, aumentam as incertezas econômicas, pois as receitas petrolíferas alimentam tanto os cofres públicos quanto as reservas cambiais.
Não se trata apenas de uma crise de demanda. Seja porque houve avanços tecnológicos, seja porque a Opep fragmentou-se politicamente, ou ainda porque houve substituição de materiais e energia em muitos países, há excesso estrutural de oferta.
Já se temeu a escassez absoluta de petróleo. No Brasil, investiu-se na exploração de águas profundas e no Proálcool. Num momento de contenção de gastos e ajuste produtivo, o governo deveria não apenas repensar esses programas como permitir que a queda nos preços do petróleo seja repassada aos usuários nacionais.
Mas o governo parece preferir continuar errando de dois lados: investindo na exploração cara e cobrando demais pelo que ficou barato.



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