São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 1998

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Desenvolvimento por decreto

CLÓVIS ROSSI

Londres - O presidente Fernando Henrique Cardoso disse, ao confirmar que criará um novo ministério (o do Desenvolvimento), que não se tratava de um contraponto à equipe econômica.
Se é mesmo assim, o novo ministério é inútil. Muita gente acha, aliás, que ele seria inútil em qualquer circunstância, mas essa é uma outra história.
Um ministério, por genial que seja seu titular, não fabrica desenvolvimento. Quem o produz, para os liberais, é a livre ação do mercado. Para os não tão liberais, é uma política econômica adequada.
O Ministério do Desenvolvimento não vai, já que não é contraponto à equipe econômica, interferir com dois dos três principais instrumentos de política econômica.
Ou seja, não vai baixar os juros, o que seria essencial para estimular a atividade econômica, pré-condição para o desenvolvimento.
Tampouco vai mexer no câmbio, o que ajudaria pelo menos a movimentar as exportações, outro fator de desenvolvimento.
Sobra, portanto, usar a arma restante, o Orçamento. Ora, este está comprometido, pelos próximos anos, com as metas fixadas no acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
É bom deixar claro que não estou emitindo juízo de valor sobre a queda dos juros, uma mexida no câmbio ou os gastos governamentais. Estou apenas tentando adivinhar para que serve um Ministério de Desenvolvimento sem tais instrumentos.
Na melhor das hipóteses, servirá para coordenar melhor as ações governamentais, eventualmente para redirecioná-las. É algo, mas é pouco.
É pelo menos insuficiente para justificar a nova pasta. A menos que o presidente queira ter no gabinete um conflito de opiniões entre, digamos, desenvolvimentistas e monetaristas.
Tudo bem, gosto não se discute. Mas não seria mais lógico mandar a equipe econômica dar à sua política um rumo mais desenvolvimentista?



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