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Desenvolvimento por decreto
CLÓVIS ROSSI
Londres - O presidente Fernando
Henrique Cardoso disse, ao confirmar
que criará um novo ministério (o do
Desenvolvimento), que não se tratava
de um contraponto à equipe econômica.
Se é mesmo assim, o novo ministério
é inútil. Muita gente acha, aliás, que
ele seria inútil em qualquer circunstância, mas essa é uma outra história.
Um ministério, por genial que seja
seu titular, não fabrica desenvolvimento. Quem o produz, para os liberais, é a livre ação do mercado. Para
os não tão liberais, é uma política econômica adequada.
O Ministério do Desenvolvimento
não vai, já que não é contraponto à
equipe econômica, interferir com dois
dos três principais instrumentos de
política econômica.
Ou seja, não vai baixar os juros, o
que seria essencial para estimular a
atividade econômica, pré-condição
para o desenvolvimento.
Tampouco vai mexer no câmbio, o
que ajudaria pelo menos a movimentar as exportações, outro fator de desenvolvimento.
Sobra, portanto, usar a arma restante, o Orçamento. Ora, este está comprometido, pelos próximos anos, com
as metas fixadas no acordo com o FMI
(Fundo Monetário Internacional).
É bom deixar claro que não estou
emitindo juízo de valor sobre a queda
dos juros, uma mexida no câmbio ou
os gastos governamentais. Estou apenas tentando adivinhar para que serve um Ministério de Desenvolvimento
sem tais instrumentos.
Na melhor das hipóteses, servirá para coordenar melhor as ações governamentais, eventualmente para redirecioná-las. É algo, mas é pouco.
É pelo menos insuficiente para justificar a nova pasta. A menos que o presidente queira ter no gabinete um conflito de opiniões entre, digamos, desenvolvimentistas e monetaristas.
Tudo bem, gosto não se discute. Mas
não seria mais lógico mandar a equipe econômica dar à sua política um
rumo mais desenvolvimentista?
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