São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 2007

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Extorsão olímpica

NA PÁTRIA de chuteiras, sediar a Copa do Mundo ou os Jogos Olímpicos é motivo de glória. À espera de um evento desse porte, o Brasil exercita-se nos Jogos Pan-Americanos. A justificativa para abrigar tais eventos costuma incluir, além dos brios nacionalistas, a noção de que revertem em investimentos duradouros para a cidade-sede e para o país.
Texto do repórter Mário Magalhães publicado na quarta-feira mostra que as coisas não são bem assim. Sucessivos estouros no orçamento do Pan, a realizar-se no Rio em julho, abalam a expectativa de que o cidadão será de algum modo recompensado.
Em 2003, a prefeitura anunciava a construção do estádio olímpico a ser usado na competição. Ele custaria R$ 60 milhões e ficaria pronto em 2004. Estamos em 2007 e ele segue em obras. Já consumiu R$ 350 milhões.
No âmbito estadual, a reforma do Maracanã, orçada em 2005 em R$ 71 milhões, já custou R$ 232 milhões. É dinheiro bastante para erguer estádios novos e moderníssimos. O de Leipzig, usado na Copa da Alemanha de 2006, saiu por R$ 244 milhões. O de Seogwipo (Coréia do Sul, 2002) ficou em R$ 203 milhões.
Em 2002, quando da candidatura do Rio, o Comitê Olímpico Brasileiro estimava o total de gastos em US$ 178 milhões (R$ 550 milhões à época), a maior parte bancados pela prefeitura. Cerca de 20% dos recursos viriam da iniciativa privada. Hoje é difícil precisar quanto o poder público -município, Estado e União- terá despendido ao final do evento. Os organizadores falam em R$ 3 bilhões: a metade vinda do governo federal (R$ 1,5 bilhão) e praticamente nada de empresas privadas.
Tais valores talvez se justificassem se, no cômputo geral, resultassem em ganhos consideráveis para a cidade. Não parece ser o caso. R$ 3 bilhões por um estádio, uma vila olímpica e mais algumas obras de menor impacto é um preço extorsivo pelo qual todos os brasileiros estão pagando.
A experiência do Rio recomenda às autoridades pensar várias vezes antes de seguir com a candidatura do Brasil para a Copa de 2014, cujas dimensões fariam a gastança com o Pan 2007 parecer um jogo de amadores.


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