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Extorsão olímpica
NA PÁTRIA de chuteiras, sediar a Copa do Mundo ou
os Jogos Olímpicos é motivo de glória. À espera de um
evento desse porte, o Brasil exercita-se nos Jogos Pan-Americanos. A justificativa para abrigar
tais eventos costuma incluir,
além dos brios nacionalistas, a
noção de que revertem em investimentos duradouros para a cidade-sede e para o país.
Texto do repórter Mário Magalhães publicado na quarta-feira mostra que as coisas não são
bem assim. Sucessivos estouros
no orçamento do Pan, a realizar-se no Rio em julho, abalam a expectativa de que o cidadão será
de algum modo recompensado.
Em 2003, a prefeitura anunciava a construção do estádio
olímpico a ser usado na competição. Ele custaria R$ 60 milhões e
ficaria pronto em 2004. Estamos
em 2007 e ele segue em obras. Já
consumiu R$ 350 milhões.
No âmbito estadual, a reforma
do Maracanã, orçada em 2005
em R$ 71 milhões, já custou R$
232 milhões. É dinheiro bastante
para erguer estádios novos e moderníssimos. O de Leipzig, usado
na Copa da Alemanha de 2006,
saiu por R$ 244 milhões. O de
Seogwipo (Coréia do Sul, 2002)
ficou em R$ 203 milhões.
Em 2002, quando da candidatura do Rio, o Comitê Olímpico
Brasileiro estimava o total de
gastos em US$ 178 milhões (R$
550 milhões à época), a maior
parte bancados pela prefeitura.
Cerca de 20% dos recursos viriam da iniciativa privada. Hoje é
difícil precisar quanto o poder
público -município, Estado e
União- terá despendido ao final
do evento. Os organizadores falam em R$ 3 bilhões: a metade
vinda do governo federal (R$ 1,5
bilhão) e praticamente nada de
empresas privadas.
Tais valores talvez se justificassem se, no cômputo geral, resultassem em ganhos consideráveis para a cidade. Não parece ser
o caso. R$ 3 bilhões por um estádio, uma vila olímpica e mais algumas obras de menor impacto é
um preço extorsivo pelo qual todos os brasileiros estão pagando.
A experiência do Rio recomenda às autoridades pensar várias
vezes antes de seguir com a candidatura do Brasil para a Copa de
2014, cujas dimensões fariam a
gastança com o Pan 2007 parecer um jogo de amadores.
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