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CLÓVIS ROSSI
Erramos
GENEBRA - O grupo de mídia britânico "The Economist" publica
um imperdível anuário chamado
"The World in....". O deste ano é
mais imperdível ainda porque traz
um baita "erramos", carregado com
o corrosivo humor britânico -no
caso contra a própria publicação.
Chegou a encomendar a um historiador revisar os 20 anos de história do anuário para ver quantas vezes "The Economist" previra o fim
de Fidel Castro. Foram incontáveis,
inclusive em 2006.
Diz: "O velho revolucionário nos
desafiou de novo, passando por
uma séria cirurgia, mas teimosamente completando 80 anos em vez
de morrer".
Na economia idem. O anuário
2006 previu menor crescimento
global ("foi o mais forte em 30
anos", reconhece o de 2007). Previu
também uma desaceleração na China ("que avançou mais rapidamente do que antes", descobriu um ano
depois).
Deveria haver leis tornando obrigatórias correções de previsões da
mídia, mas também de acadêmicos
e, principalmente, de governantes.
Humanizaria as coisas.
Ninguém que eu tenha lido fez,
por exemplo, um ato de contrição
sobre o caso do calote argentino.
Um milhão de analistas previu que,
depois dele, o país jamais recuperaria crédito internacional, afundaria
numa crise terminal e passaria o
resto dos tempos no inferno. Anteontem, o risco-país argentino ficou perto do nível do Brasil. E os
profetas do apocalipse assobiam e
olham para o lado.
No caso dos políticos, imagino
que eles tenham medo de perder
votos se fizerem uma autocrítica.
Pode ser, mas, como o próprio presidente Lula admitiu no discurso de
posse, nunca houve tão tremendo
descrédito em relação à política. Se
ele, como "The Economist", admitisse que errou feio ao falar, em
maio de 2003, em "espetáculo do
crescimento", perderia votos ou ficaria mais humano?
crossi@uol.com.br
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