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PLÍNIO FRAGA
Sobre sorrisos, morte e café
RIO DE JANEIRO - Jornalistas
raramente fazem os leitores sorrir.
Os poucos que detêm tal qualidade
merecem registro. Ben Bradlee, ex-diretor de redação do "Washington
Post", definiu assim o jornalista e
humorista norte-americano Art
Buchwald, morto na quarta-feira
passada aos 81 anos.
Internado em um hospital, havia
desistido de fazer hemodiálise. "Recebi prêmio literário, fui eleito homem do ano. Não imaginei que
morrer podia ser tão divertido", escreveu às vésperas da morte.
No obituário que publicou, o
"New York Times" registrou como
um dos seus textos mais engraçados uma viagem à Turquia em busca dos banhos turcos -estufa onde
se reveza a exposição do corpo ao
vapor d'água em alta temperatura
com a imersão em água gelada.
A graça desse texto de Buchwald
estava na descoberta -entendida
aqui como o ponto de vista de um
norte-americano - da não-existência de banhos turcos na Turquia.
Uma das míticas reportagens da
imprensa - "Frank has a cold", escrita por Gay Talese- mostra o fracasso do repórter em entrevistar Sinatra, acometido por gripe que causa efeitos colaterais em uma centena de pessoas da sua equipe.
Como se vê, o talento pode estar
em enxergar a notícia em um não-acontecimento. O presidente da
Venezuela, Hugo Chávez, bradou
na sua despedida que a imprensa
brasileira se submete ao imperialismo americano. Uma bobagem. Os
problemas do jornalismo brasileiro
são outros. O pior deles é transformar uma não-notícia num acontecimento. Em Brasília, os palácios,
os ministérios e o Congresso parecem ser o cativeiro reprodutivo da
não-notícia que desabrocha em
acontecimento.
Em homenagem a Buchwald, revela-se aqui uma notícia de um não-acontecimento: não há café carioca
(aquele mais ralo) no Rio.
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