São Paulo, segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

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ROGÉRIO GENTILE

Convite oficial à velocidade

SÃO PAULO - Deve-se a uma medida eleitoreira, aprovada por Lula durante a campanha presidencial de 2006, boa parte da responsabilidade pelo atual recrudescimento das mortes nas estradas.
Naquela ocasião, quando os números da brutalidade no trânsito eram os menores em anos, o governo achou por bem abrandar as multas por excesso de velocidade.
Por conta daquela decisão, um sujeito flagrado a 179 km/h em uma rodovia de 120 km/h recebe apenas uma multa de R$ 127,69 e cinco pontos na carteira. Antes, eram R$ 574,62 e a suspensão da habilitação. O que era uma infração gravíssima virou grave. A grave virou média, e as conseqüências são as piores.
O índice de mortes em acidentes nas estradas federais estava em queda contínua. Foram 18,41 casos fatais em 2002 para cada 100 mil veículos; 15,77 no ano seguinte; 15,59 em 2004; 15,19 em 2005 e 13,59 em 2006. Agora voltou a subir: 13,89 em 2007.
O absurdo da decisão fica ainda mais evidenciado quando se leva em conta que a maior parte das mortes, de acordo com a própria Polícia Rodoviária Federal, ocorre em trechos com bom estado de conservação (80,75%), em retas (71,4%), na luz do dia (53,6%) e com tempo seco (63%).
O convite oficial à velocidade foi agravado ainda pelo fato de que as lombadas eletrônicas, importante instrumento de fiscalização, ficaram desativadas na maior parte do ano passado por problemas na licitação -em 1999, quando começaram a ser instaladas, houve uma redução de até 85% nos acidentes nos trechos urbanos das rodovias.
Agora, diante dos números e do que ficou conhecido na mídia como "o Natal sangrento", o governo vai enviar em fevereiro ao Congresso projeto que aumenta as penas para infratores. Nas palavras do ministro Tarso Genro (Justiça), num arroubo de preocupação, serão medidas "draconianas". Então tá.


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