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ROGÉRIO GENTILE
Convite oficial à velocidade
SÃO PAULO - Deve-se a uma medida eleitoreira, aprovada por Lula
durante a campanha presidencial
de 2006, boa parte da responsabilidade pelo atual recrudescimento
das mortes nas estradas.
Naquela ocasião, quando os números da brutalidade no trânsito
eram os menores em anos, o governo achou por bem abrandar as multas por excesso de velocidade.
Por conta daquela decisão, um
sujeito flagrado a 179 km/h em uma
rodovia de 120 km/h recebe apenas
uma multa de R$ 127,69 e cinco
pontos na carteira. Antes, eram R$
574,62 e a suspensão da habilitação.
O que era uma infração gravíssima
virou grave. A grave virou média, e
as conseqüências são as piores.
O índice de mortes em acidentes
nas estradas federais estava em
queda contínua. Foram 18,41 casos
fatais em 2002 para cada 100 mil
veículos; 15,77 no ano seguinte;
15,59 em 2004; 15,19 em 2005 e
13,59 em 2006. Agora voltou a subir: 13,89 em 2007.
O absurdo da decisão fica ainda
mais evidenciado quando se leva
em conta que a maior parte das
mortes, de acordo com a própria
Polícia Rodoviária Federal, ocorre
em trechos com bom estado de conservação (80,75%), em retas
(71,4%), na luz do dia (53,6%) e com
tempo seco (63%).
O convite oficial à velocidade foi
agravado ainda pelo fato de que as
lombadas eletrônicas, importante
instrumento de fiscalização, ficaram desativadas na maior parte do
ano passado por problemas na licitação -em 1999, quando começaram a ser instaladas, houve uma redução de até 85% nos acidentes nos
trechos urbanos das rodovias.
Agora, diante dos números e do
que ficou conhecido na mídia como
"o Natal sangrento", o governo vai
enviar em fevereiro ao Congresso
projeto que aumenta as penas para
infratores. Nas palavras do ministro Tarso Genro (Justiça), num arroubo de preocupação, serão medidas "draconianas". Então tá.
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