São Paulo, segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

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VALDO CRUZ

Dormindo no ponto?

BRASÍLIA - Antes, uma brisa nos Estados Unidos se transformava numa tempestade no Brasil. Agora, um temporal sacoleja a economia norte-americana e corremos o risco de sentir apenas uma leve ventania passando por aqui.
É mais ou menos assim que o Palácio do Planalto avalia o atual cenário econômico internacional e seus efeitos sobre a economia brasileira. Tem razões para isso.
Pela primeira vez, em décadas, o país está mais preparado para enfrentar crises econômicas mundiais. Isso nos dá algo que antes não dispúnhamos: tempo para reagir e minimizar impactos que virão.
Ainda não é possível aferir com precisão a magnitude dos estragos que essa crise americana causará por essas bandas. Há chutes para todos os gostos. Ou torcidas.
É fato, porém, que se hoje estamos em situação mais confortável, ela já foi bem melhor. O espaço para absorver pressões inflacionárias praticamente desapareceu. E o dólar tende a subir, deixando de ajudar nesse combate.
Por outro lado, a desaceleração da economia americana vai impor uma redução no nosso ritmo de crescimento. Ruim por um lado, pode ter um lado positivo: frear os preços, sem necessidade de apertos na política monetária.
Há outro efeito benéfico dessa crise, que a turma do Planalto festeja a contragosto. Um crescimento de 5% em 2008 aumenta o risco de racionamento; uma queda para a casa dos 4% poderá ser atribuída ao cenário mundial, não deixará de ser um bom número e facilita o manejo da crise energética.
Entre riscos e apostas, por enquanto o governo Lula pretende se manter como um espectador atento. Mesmo comportamento deve seguir o Banco Central e deixar os juros onde estão.
Manda a boa providência não dormir no ponto. Esperar o tempo se esgotar para só depois agir seria repetir velhos erros. Uma grande burrice, com reflexos ainda piores para a nossa economia em 2009.


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