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VALDO CRUZ
Dormindo no ponto?
BRASÍLIA - Antes, uma brisa nos
Estados Unidos se transformava
numa tempestade no Brasil. Agora,
um temporal sacoleja a economia
norte-americana e corremos o risco
de sentir apenas uma leve ventania
passando por aqui.
É mais ou menos assim que o Palácio do Planalto avalia o atual cenário econômico internacional e
seus efeitos sobre a economia brasileira. Tem razões para isso.
Pela primeira vez, em décadas, o
país está mais preparado para enfrentar crises econômicas mundiais. Isso nos dá algo que antes não
dispúnhamos: tempo para reagir e
minimizar impactos que virão.
Ainda não é possível aferir com
precisão a magnitude dos estragos
que essa crise americana causará
por essas bandas. Há chutes para
todos os gostos. Ou torcidas.
É fato, porém, que se hoje estamos em situação mais confortável,
ela já foi bem melhor. O espaço para
absorver pressões inflacionárias
praticamente desapareceu. E o dólar tende a subir, deixando de ajudar nesse combate.
Por outro lado, a desaceleração
da economia americana vai impor
uma redução no nosso ritmo de
crescimento. Ruim por um lado,
pode ter um lado positivo: frear os
preços, sem necessidade de apertos
na política monetária.
Há outro efeito benéfico dessa
crise, que a turma do Planalto festeja a contragosto. Um crescimento
de 5% em 2008 aumenta o risco de
racionamento; uma queda para a
casa dos 4% poderá ser atribuída ao
cenário mundial, não deixará de ser
um bom número e facilita o manejo
da crise energética.
Entre riscos e apostas, por enquanto o governo Lula pretende se
manter como um espectador atento. Mesmo comportamento deve
seguir o Banco Central e deixar os
juros onde estão.
Manda a boa providência não
dormir no ponto. Esperar o tempo
se esgotar para só depois agir seria
repetir velhos erros. Uma grande
burrice, com reflexos ainda piores
para a nossa economia em 2009.
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