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RUY CASTRO
Rugidos virtuais
RIO DE JANEIRO - Um leitor de
jornal que discorde da orientação
de uma reportagem ou da opinião
de um articulista, e mande uma carta expressando seu ponto de vista,
terá sorte se vir essa carta publicada. Os jornais recebem milhares
por dia e o espaço para elas é limitado. Além disso, há certas regras para que uma carta saia no jornal.
Primeiro, o missivista precisa
identificar-se com nome, endereço,
telefone e/ou e-mail. Segundo, a
carta tem de ser relevante. Terceiro, deve ser escrita com alguma correção e não pode limitar-se a chulices, como mandar o repórter àquela
parte ou o articulista tomar banho,
por mais que eles mereçam. É um
espaço onde reina a civilidade.
Já os veículos on-line fazem diferente. Como não têm problema de
espaço, estimulam seus usuários a
enviar mensagens comentando as
notícias. Isso gera uma saudável
reação em cadeia, em que os usuários comentam também as mensagens uns dos outros. Ao pé de cada
uma, a advertência: "Esse comentário é insultuoso ou inadequado?
Denuncie".
Seguem-se, então, furibundas
trocas de insultos, ainda mais quando o assunto é futebol. Os torcedores se xingam com uma virulência
que não se vê nem nos estádios. Todos os qualificativos são usados como ofensa: negros, mulambentos,
"bambis", porcos, bacalhau, o que
você quiser. Nenhum clube se salva.
Protegidas pelo anonimato (as
mensagens podem ser assinadas
com pseudônimo), cometem-se as
piores incorreções políticas envolvendo cor da pele, condição social e
característica sexual.
Confesso que adoro esses bate-bocas. É a arquibancada rugindo
virtualmente. O que me ofende são
as torturantes agressões à língua
portuguesa, presentes em 90% dessas mensagens -como se seus autores quisessem estrangular a pobre da gramática, digo cartilha.
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