São Paulo, domingo, 21 de março de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Só faltou o bispo

SÃO PAULO - A posse do novo presidente da Febraban (a federação dos bancos), Márcio Cypriano, reuniu dois pólos que costumavam ser antagônicos no Brasil: petistas e banqueiros. Pois não é que virou uma festa de elogios à política econômica?!
Estavam ali os grandes do sistema financeiro (até Lázaro Brandão, do Bradesco) e os grandes do governo Lula: Palocci, Dirceu, Meirelles e Mantega. Além de Marta Suplicy -única mulher à mesa principal. Para contrabalançar, o tucano Geraldo Alckmin e um ou outro do sistema produtivo, como Horacio Lafer Piva, da Fiesp. Só faltou o bispo.
O MST ameaça retomar as invasões, as centrais sindicais falam em greve, os bingueiros estão nas ruas, e o governo acena com aumento do INSS de empresas e empregados. Só faltava essa, numa hora dessas.
Mas os bancos parecem felizes da vida. Tanto que a ministrada, a prefeita e até o governador de São Paulo estavam bem à vontade. Pena a saída um tanto tumultuada. Só Alckmin ficou para entrevistas. Marta foi a primeira a sumir. Palocci e Dirceu escaparam pela cozinha do hotel (o Transamérica de São Paulo) e por pouco não esqueceram Meirelles.
Desta vez, não havia manifestantes do lado de fora, como no início da semana, quando Lula entrou pelos fundos e saiu à francesa do Copacabana Palace. Havia jornalistas.
Em seu discurso, Marta clamou por uma "nação unida", que vem a ser uma nova versão de "união nacional" e de "governabilidade", expressões muito em voga nos governos quando a coisa começa a ficar preta.
E, para não dizer que só falou de flores, a prefeita entrou na onda de Dirceu. Condenou quem "namora o perigo" -a mídia, por exemplo- e reduziu o governo a mera vítima de uma "politicagem irresponsável".
Nesse caso, os réus somos todos nós, de MST a contribuinte do INSS. Exceto os banqueiros, claro.


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