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ELIANE CANTANHÊDE
Só faltou o bispo
SÃO PAULO - A posse do novo presidente da Febraban (a federação dos
bancos), Márcio Cypriano, reuniu
dois pólos que costumavam ser antagônicos no Brasil: petistas e banqueiros. Pois não é que virou uma festa de
elogios à política econômica?!
Estavam ali os grandes do sistema
financeiro (até Lázaro Brandão, do
Bradesco) e os grandes do governo
Lula: Palocci, Dirceu, Meirelles e
Mantega. Além de Marta Suplicy
-única mulher à mesa principal.
Para contrabalançar, o tucano Geraldo Alckmin e um ou outro do sistema produtivo, como Horacio Lafer
Piva, da Fiesp. Só faltou o bispo.
O MST ameaça retomar as invasões, as centrais sindicais falam em
greve, os bingueiros estão nas ruas, e
o governo acena com aumento do
INSS de empresas e empregados. Só
faltava essa, numa hora dessas.
Mas os bancos parecem felizes da
vida. Tanto que a ministrada, a prefeita e até o governador de São Paulo
estavam bem à vontade. Pena a saída um tanto tumultuada. Só Alckmin ficou para entrevistas. Marta foi
a primeira a sumir. Palocci e Dirceu
escaparam pela cozinha do hotel (o
Transamérica de São Paulo) e por
pouco não esqueceram Meirelles.
Desta vez, não havia manifestantes
do lado de fora, como no início da semana, quando Lula entrou pelos
fundos e saiu à francesa do Copacabana Palace. Havia jornalistas.
Em seu discurso, Marta clamou por
uma "nação unida", que vem a ser
uma nova versão de "união nacional" e de "governabilidade", expressões muito em voga nos governos
quando a coisa começa a ficar preta.
E, para não dizer que só falou de
flores, a prefeita entrou na onda de
Dirceu. Condenou quem "namora o
perigo" -a mídia, por exemplo- e
reduziu o governo a mera vítima de
uma "politicagem irresponsável".
Nesse caso, os réus somos todos nós,
de MST a contribuinte do INSS. Exceto os banqueiros, claro.
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