São Paulo, domingo, 21 de março de 2004 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES Um ano cheio de oportunidades
ALBERTO NAVARRO
Existem razões políticas, econômicas e morais para apoiar essa ampliação. Do ponto de vista político, ela vai contribuir para a estabilidade e a segurança da Europa. Do ponto de vista econômico, o mercado europeu vai crescer em mais de 80 milhões de consumidores, incorporando dez novas economias com altas taxas de crescimento. E do ponto de vista moral, é óbvio que a UE não pode fechar as portas a essas jovens democracias depois de décadas de ditadura comunista. O regresso à Europa desses dez novos membros vai nos trazer mais recursos humanos e financeiros, mais energias para consolidar uma Europa ainda mais forte, aberta e solidária. A nova União Européia reforçará as suas relações com a América Latina, continente com o qual partilhamos os mesmos valores e a mesma visão do mundo. Não existe, além da Europa, outro grupo de países com tanta afinidade política, histórica ou cultural com a América Latina. O Brasil terá honra de presidir o Mercosul durante a segunda metade deste ano. A União Européia está pronta para apoiar todas as iniciativas propostas pela presidência brasileira, compartilhar as nossas experiências de integração, assim como contribuir para o reforço institucional do Mercosul. Nos próximos meses devemos concluir as negociações para a nova associação birregional entre a UE e o Mercosul, criando uma zona de livre comércio de 700 milhões de cidadãos, com um PIB de 9,3 trilhões. A liberalização do comércio e dos intercâmbios deve contribuir para o crescimento econômico e a criação de empregos. Em abril serão apresentadas, em Bruxelas, as propostas detalhadas, incluindo as concessões agrícolas que tanto interessam aos exportadores brasileiros. A Comissão Européia está preparada para assumir a sua responsabilidade, a fim de completar uma negociação que consideramos estratégica. Mas, para assegurar o sucesso das negociações e o respeito dos prazos estabelecidos, será preciso que o esforço agrícola europeu seja acompanhado de concessões do Mercosul nas áreas de serviços, investimentos e compras governamentais. O interesse da Europa pelas regras (serviços, investimentos e compras públicas) é tão grande como o do Mercosul pela agricultura européia. É hora de decisões importantes, com visão de futuro, para criar uma associação birregional sem precedentes no mundo. Dizia no início deste artigo que o Brasil e a União Européia compartilham os mesmos valores. Abolimos há muitos anos a pena de morte. Apoiamos o reforço da ONU e queremos instituições multilaterais eficazes para fazer frente aos problemas comuns deste mundo globalizado e interdependente. Por isso ajudamos na criação do Tribunal Penal Internacional e da OMC. Assinamos o Protocolo de Kyoto e o Convênio de Ottawa. Procuramos um modelo de sociedade muito parecido, lutando contra a exclusão social e favorecendo os processos de integração regional. Vemos o mundo com os mesmos olhos. Infelizmente, não se pode dizer a mesma coisa de muitos outros países, incluindo os mais poderosos. Este ano se iniciou com a assinatura, em Brasília, no dia 19/1, do Acordo de Ciência e Tecnologia entre a Comunidade Européia e o Brasil. Esse acordo abre as portas para a participação de empresas, pesquisadores e universidades brasileiros no 6º Programa Quadro Europeu de Pesquisa e Desenvolvimento, com um orçamento de mais de 20 bilhões. Estou certo de que nos próximos meses continuará a se desenvolver a cooperação entre a União Européia e o Brasil em muitos outros setores de interesse comum: luta contra a pobreza, intercâmbios universitários, cooperação econômica e financeira, cooperação judicial e policial, participação do Brasil no projeto de satélites europeu Galileo, desenvolvimento do turismo, proteção do meio ambiente e das florestas tropicais, novas tecnologias etc. O ano de 2004 pode ser cheio de oportunidades para o Brasil e a nova União Européia, se todos juntos fizermos um esforço para as aproveitar. Estou certo de que o Brasil, qualificado há muitos anos por um grande escritor europeu, Stefan Zweig, como "o país do futuro", fará o que for preciso para aproveitar essas oportunidades e honrar esse qualificativo. A UE está pronta para ajudá-lo nesse intento comum. Alberto Navarro, embaixador, é o chefe da Delegação da Comissão Européia no Brasil. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Maria Sylvia Carvalho Franco: O pequeno Napoleão e sua corte Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
|