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A vez da educação
MILÚ VILLELA
Há dois caminhos: a perda gradual de um processo civilizatório ou a redenção de um país pela educação pública de qualidade
HÁ POUCO mais de um ano, iniciamos um movimento para
construir um projeto de nação
para a educação brasileira.
Era o início de uma aliança da sociedade civil em prol da educação pública, envolvendo os três entes federativos -Ministério da Educação
(MEC), Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed) e União
Nacional dos Dirigentes Municipais
de Educação (Undime)- e lideranças
sociais e empresariais.
A iniciativa ganhou fôlego. E cinco
metas foram estabelecidas para dar
um norte e organizar os esforços, de
forma que promovesse a universalização da educação básica com qualidade para todos os brasileiros, com
ênfase na alfabetização de nossas
crianças. Como referência para o alcance dessas metas, foi definido o ano
de 2022, quando o Brasil completará
200 anos de sua independência. Só
haverá uma verdadeira independência por meio de uma educação de qualidade para todos os brasileiros.
A efetivação dessa aliança ocorreu,
simbolicamente, na manhã fria, mas
de grande calor humano, de 6 de setembro de 2006, em frente ao museu
do Ipiranga, na cidade de São Paulo. O
movimento ganhou o nome de Compromisso Todos pela Educação. Surgia um novo horizonte para a educação pública em nosso país. Um compromisso de nação com as futuras gerações de brasileiros, provendo-as do
bem mais importante que um cidadão
deveria desejar para si, uma educação
de qualidade.
O desafio que agora se configurava
era como implementar o Compromisso Todos pela Educação como um
projeto de nação, e não de governo.
Era preciso que o Ministério da
Educação, seguindo preceitos constitucionais, se colocasse, enquanto gestor público, responsável pelo setor,
como o maior articulador, mas não
como o único responsável. Que associasse a liberação de recursos públicos a metas a serem cumpridas pelos
Estados e municípios para melhorar a
sua educação, a partir de um diagnóstico preliminar. E, principalmente,
que fosse capaz de fazer com que todos os brasileiros se sentissem parte
dessa iniciativa de política pública para a educação, rompendo, assim, com
a cultura de projeto de governo, passando a adotar um projeto de nação.
Foi isso o que presenciamos no último dia 15 de março, no Palácio do Planalto, sob a liderança desse jovem e
operante ministro Fernando Haddad,
com o apoio decisivo do presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele próprio deu o tom da mudança,
com um pronunciamento firme e desejoso de transformar a realidade
educacional em nosso país, ao dizer:
"Estou aqui apenas representando
uma demanda de que sinto necessidade, mas quem dará a resposta, certamente, serão vocês, e não eu".
Era o sentimento de alguém que
chegou ao cargo mais importante de
um país. Naquele momento, imbuído
de um espírito público que já não era
apenas de governante, mas de líder de
uma aliança com toda a sociedade
brasileira, dava o exemplo, ao solicitar a contribuição de todos os ex-ministros da Educação, independentemente de partido e de crença, em prol
da educação.
O ministro Fernando Haddad, com
firmeza, apresentou por quase duas
horas o Plano de Desenvolvimento da
Educação. Em sua fala, lançava as bases de uma nova educação, com foco
no aluno, na sua aprendizagem e numa gestão escolar pautada em resultados. Isso, segundo o ministro, representava o esforço continuado de
muitos anos, aproveitando o que de
melhor cada experiência governamental do passado trouxe para a área.
Agora era preciso juntar forças, e não
dispersá-las.
Apesar da visão sistêmica inserida
no plano, a prioridade é a educação
básica, por meio do decreto presidencial intitulado Programa de Metas
Compromisso Todos pela Educação,
e, assim, o governo federal reafirmava
os princípios concretos para uma
ação perene e pela certeza de que ali
se iniciava um novo momento da história da educação brasileira.
O Ministério da Educação continua
a fazer o seu dever de casa, com um
projeto sólido para a educação pública. É preciso agora que cada brasileiro, comprometido com um projeto de
nação, se engaje nessa luta que deve
ser de todos.
Por fim, temos dois caminhos a seguir: a perda gradual de um processo
civilizatório ou a redenção de um país
verdadeiramente independente pela
educação pública de qualidade para
todos.
MILÚ VILLELA, 60, presidente do Faça Parte - Instituto
Brasil Voluntário, é embaixadora da Boa Vontade da
Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura) e membro-fundadora do Compromisso Todos pela Educação, além de presidente do MAM
(Museu de Arte Moderna) e do Instituto Itaú Cultural.
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