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RUY CASTRO
Entrevista com Clodovil
RIO DE JANEIRO - O telefone tocou no ateliê da av. Cidade Jardim,
em São Paulo, interrompendo minha entrevista com Clodovil para
"Playboy". O ano, 1980. Uma senhora queria saber o preço-base de
um "vestido de Clodovil".
"Não posso dizer o preço-base,
minha senhora", ele vituperou. "Isso aqui não é quitanda para ficar
perguntando o preço da cenoura.
Quer fazer o vestido, vem e faz, mas
não fica perguntando o preço por
telefone. E não tem essa de comparação, porque uma etiqueta Clodovil não é uma etiqueta João das
Couves. Passe bem!".
Retomamos a entrevista. Entra
uma modelo usando um vestido de
tule. Desfila para Clodovil e diz que
está achatando seu busto. Ele não
perdoa: "O vestido está per-fei-to,
meu bem. O seu busto é que está
caído. Vá procurar um cirurgião
plástico, entendeu? Eu é que não
vou para o analista por sua causa!".
Perguntei-lhe sobre a acusação
de que fazia apologia do homossexualismo na televisão. Foi enfático:
"Nunca fiz apologia de homossexualismo e nunca farei, porque
acho um horror levantar bandeira
de qualquer coisa. É uma besteira
esse negócio de homossexual querer direitos e não sei o quê. O que é
preciso é cada macaco no seu galho,
no sentido de colocar-se diante da
vida: sou homossexual e quero ser
dentista, então vou ser dentista
com dignidade; sou homossexual e
quero ser político, então vou ser político com dignidade. Porque homossexual é filho de um homem
com uma mulher, não é filho de gay.
O que esses grupinhos da apologia
fazem é ficar falando de sexo o tempo todo, o que acaba numa masturbação a dois".
Ele era assim, duro, direto. Respondeu a dezenas de irritantes perguntas sobre homossexualismo e,
exceto por um momento, em que
ameaçou me expulsar, foi um dos
melhores entrevistados que já tive.
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