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CLÓVIS ROSSI
Serra aponta seu problema
PARIS - Ao assumir sua candidatura à Presidência com aquele jeito
José Serra de ser, o governador
paulista disse o seguinte: "O Lula
fez dois mandatos, está terminando
bem o governo. O que nós queremos para o Brasil? Que continue
bem e até melhore".
Em três frases, Serra conseguiu,
ao mesmo tempo, ser honesto na
avaliação do governo do adversário,
ser também óbvio e, por fim, definiu a imensa dificuldade que terá
para vencer a disputa.
De fato, é muito difícil encontrar
quem ache que Lula está terminando mal o governo.
Mas uma das principais características do mundo político é a oposição negar-se sempre a reconhecer
os fatos quando os fatos são favoráveis ao governo. Serra não caiu nessa tentação.
O problema é o item seguinte, a
torcida para que o Brasil "continue
bem e até melhore". É o óbvio. Salvo
um ou outro tarado, não há nunca
quem não queira que o país melhore. O problema para Serra será provar que ele é a pessoa indicada para
fazer o Brasil melhorar.
Imagino que a massa de eleitores
se fará a seguinte pergunta: se está
bem com Lula, como admite até o
candidato a candidato da oposição,
para que mudar?
A resposta de Serra será (ou foi)
esta: "Pesam as ideias, as propostas
e o passado, o que cada um fez, como foi provado na vida pública".
Pode até ser que tais fatores pesem. Mas pouco. Vamos ser sinceros: ideias e propostas servem para
debate entre especialistas. A massa
é guiada pela emoção e/ou pelo sentimento pessoal de cada qual. E o
sentimento predominante, repito,
é o tal "feel good factor", o sentir-se
bem que predomina na população/eleitorado.
Passado conta? Talvez. Mas pode
contar contra também. Afinal, todas as pesquisas mostram que a
maioria do eleitorado está hoje
mais contente do que quando Serra
fazia parte do governo.
crossi@uol.com.br
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