São Paulo, Domingo, 21 de Março de 1999
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Mirem-se no exemplo

ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - O senador, duas vezes governador e duas vezes ministro Iris Rezende (65) está no meio do furacão.
Derrotado por Marconi Perillo, político quase 30 anos mais jovem, convive com denúncias de nepotismo e de promiscuidade entre sua campanha e o dinheiro público.
Mesmo sendo de Goiás, Estado pouco conhecido no Rio e em São Paulo, Iris Rezende está longe de ser um político insignificante. Pelo contrário. Derrubou oligarquias consolidadas, enfrentou a ditadura militar e é quase uma lenda no Centro-Oeste. Já foi lembrado para a Presidência da República mais de uma vez.
É por isso que ele merece uma boa reflexão sobre os jovens destemidos e bem-intencionados que entram na política para mudar o mundo e acabam na mesma vala comum das derrotas, suspeitas e denúncias. Repetem aquela história: "Eu sou você amanhã". E com os mesmos vícios.
As primeiras eleições diretas para governador desde 1965 foram em 1982, ainda no regime militar, e consagraram dez nomes da oposição. Dali certamente sairiam candidatos a presidente. Quem sabe um presidente?
Fora Leonel Brizola (RJ), do PDT, todos os demais eram do PMDB: Iris, Tancredo Neves (MG), Franco Montoro (SP), José Richa (PR), Nabor Júnior (AC), Gilberto Mestrinho (AM), Gerson Camata (ES), Wilson Barbosa Martins (MS) e Jader Barbalho (PA).
Tancredo morreu sem tomar posse. Brizola tentou a Presidência duas vezes, sem sucesso. Richa desencantou-se com a política. Os outros estão por aí, caindo em desuso, convivendo com derrotas. Como Jader e Iris, vencidos pela primeira vez em décadas.
Os eleitores estão reciclando seus grandes líderes: alguns bateram no teto, outros combateram o mal e estão agora sendo combatidos pelo bem. Perderam o eixo. Estão perdendo os votos. Vieram para desmontar a máquina. Acabaram engolidos por ela.
Que os novos governadores se mirem no exemplo e cuidem da imagem. Reconhecer-se no espelho todo santo dia faz bem ao próprio passado e à biografia. Mas não é o mais comum no mundo deformador da política.


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