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Sem líderes
MARCELO BERABA
Rio de Janeiro - Em meio a tantas comemorações centenárias, vão passando batidas duas datas recentes. São
efemérides apenas fluminenses e que
servem de pretexto para pensar um
pouco sobre a nossa pobre história política e partidária.
Refiro-me aos 40 anos da mudança
da capital federal para Brasília (21 de
abril de 1960) e aos 25 anos da fusão
dos antigos Estados do Rio e da Guanabara (15 de março de 1975). Duas
datas que tiveram forte impacto sobre
o ambiente político do Rio, com consequências ainda não totalmente percebidas.
Desde Carlos Lacerda o Rio não tem
uma liderança de expressão nacional.
Lacerda foi o grande político da transformação da cidade em Estado e começa a morrer com os militares, a partir de 64.
Chagas Freitas operou o amesquinhamento de uma vida política rica,
polêmica, ideologizada. Reduziu a política a uma atividade paroquial.
Brizola foi acolhido pelo Estado a
partir de 82 em uma demonstração de
descontentamento com a situação política local e nacional. Cravou uma cunha no coração do chaguismo, criou
raízes na cidade, ressuscitando o trabalhismo, mas foi aos poucos perdendo força eleitoral no resto do país.
Moreira Franco tinha pretensões
nacionais. Acabou o governo de forma
melancólica.
O governador Anthony Garotinho
vive, neste momento, a ressaca de uma
grande crise. Ainda não dá para saber
o tamanho dos estragos no seu projeto
político presidencial.
Virou senso comum que o Rio não
consegue mais projetar lideranças. As
razões não são claras. É possível que
suas raízes estejam lá atrás, na mudança da capital e na fusão.
Há, neste momento, um surto de estudos sobre o Rio nos centros de pesquisas de história, de antropologia da
política e de ciência política. É provável que de lá venham respostas.
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