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DEMOCRACIAS ÁRABES
George W. Bush e a máquina
de propaganda norte-americana vêm tentando justificar a aventura
bélica no Iraque como uma "guerra
de libertação". Mas é risível a idéia de
que as tropas norte-americanas tenham deposto Saddam Hussein para levar a democracia aos iraquianos.
Para começar, como bem notou o
pesquisador indiano radicado nos
EUA Muqtedar Khan, em entrevista à
Folha, Washington não está falando
em organizar eleições livres no Iraque. O conceito que deverá prevalecer é o de "governo representativo de
todos os povos". As forças de ocupação deverão escolher indivíduos, alguns curdos, alguns sunitas, alguns
xiitas, como ocorreu no Afeganistão.
Um nome que os EUA já deixaram
claro que querem ver no futuro governo iraquiano é o de Ahmed Chalabi, com o qual figuras proeminentes
da cúpula do governo de George W.
Bush mantêm negócios.
De resto, os EUA temem demais o
que Khan chama de pan-islamismo
religioso para se dar ao luxo de promover eleições livres de verdade no
mundo muçulmano. Uma das principais bandeiras desses novos grupos religiosos que teriam grandes
chances de chegar ao poder pelo voto
é justamente o antiamericanismo.
Resta saber se é possível -e, em
caso afirmativo, se vale a pena- refrear esse movimento. A Argélia já
enfrentou esse dilema. Nas eleições
de 1992, o partido religioso FIS
(Frente Islâmica de Salvação) estava
prestes a vencer as eleições, o que levou o governo a cancelar o pleito,
num gesto que foi aplaudido por vários países ocidentais.
O golpe, contudo, deu lugar a uma
sangrenta guerra civil, que já produziu 100 mil mortos. Analistas apostam que, se a FIS tivesse assumido o
poder, teria naturalmente moderado
suas posições, num processo semelhante ao que ocorre hoje no Irã.
O Ocidente precisa decidir se considera mesmo a democracia um valor universal ou se só vai defendê-la
enquanto isso estiver de acordo com
os seus interesses geopolíticos.
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