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São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2003

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DEMOCRACIAS ÁRABES

George W. Bush e a máquina de propaganda norte-americana vêm tentando justificar a aventura bélica no Iraque como uma "guerra de libertação". Mas é risível a idéia de que as tropas norte-americanas tenham deposto Saddam Hussein para levar a democracia aos iraquianos.
Para começar, como bem notou o pesquisador indiano radicado nos EUA Muqtedar Khan, em entrevista à Folha, Washington não está falando em organizar eleições livres no Iraque. O conceito que deverá prevalecer é o de "governo representativo de todos os povos". As forças de ocupação deverão escolher indivíduos, alguns curdos, alguns sunitas, alguns xiitas, como ocorreu no Afeganistão.
Um nome que os EUA já deixaram claro que querem ver no futuro governo iraquiano é o de Ahmed Chalabi, com o qual figuras proeminentes da cúpula do governo de George W. Bush mantêm negócios.
De resto, os EUA temem demais o que Khan chama de pan-islamismo religioso para se dar ao luxo de promover eleições livres de verdade no mundo muçulmano. Uma das principais bandeiras desses novos grupos religiosos que teriam grandes chances de chegar ao poder pelo voto é justamente o antiamericanismo.
Resta saber se é possível -e, em caso afirmativo, se vale a pena- refrear esse movimento. A Argélia já enfrentou esse dilema. Nas eleições de 1992, o partido religioso FIS (Frente Islâmica de Salvação) estava prestes a vencer as eleições, o que levou o governo a cancelar o pleito, num gesto que foi aplaudido por vários países ocidentais.
O golpe, contudo, deu lugar a uma sangrenta guerra civil, que já produziu 100 mil mortos. Analistas apostam que, se a FIS tivesse assumido o poder, teria naturalmente moderado suas posições, num processo semelhante ao que ocorre hoje no Irã.
O Ocidente precisa decidir se considera mesmo a democracia um valor universal ou se só vai defendê-la enquanto isso estiver de acordo com os seus interesses geopolíticos.


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