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VINICIUS MOTA
O bordão que falta
SÃO PAULO - Falta ao governo Lula um slogan definitivo. FHC tinha um,
memorável: "Avança, Brasil". Os
marqueteiros tucanos eram obcecados pela idéia de movimento, de processo. Pena que a ordem que deram à
nação tenha sido branda demais.
Duda Mendonça e companhia certamente não vão repetir os erros do
passado. A um verbo de ação, preferirão um que sugira reflexão e, em vez
do comando indolente, uma verdadeira ordem. Vem-me à cabeça, instantaneamente, o "Veja bem, Brasil".
Diante de um "Veja bem", o mais
convicto inquisidor é levado a rever
os seus conceitos e a descobrir ignorância onde pensava haver sapiência. O "Veja bem" é perfeito para o
governismo petista dobrar meia dúzia de críticos. Aos exemplos:
1. A topologia da bravata de Lula.
Se o presidente tivesse iniciado com
um "Veja bem" a sua explanação
acerca da liberdade do exercício do
blefe na oposição, contrastante com a
sua impossibilidade no poder, o assunto hoje já seria página virada;
2. A profunda preocupação de Palocci com o assalariado. Ao manifestar temeridade com o reajuste salarial em algumas categorias, o ministro estava apenas defendendo o interesse do trabalhador. Poderia ter dito
algo como: "Veja bem, companheiro,
muito salário no final das contas prejudica o próprio trabalhador";
3. A inovadora doutrina do sussurro diplomático. Para que precisamos
demonstrar de público nossa ojeriza
às mais recentes atrocidades cometidas por Fidel Castro, se podemos proferir as palavras diretamente, ao pé
do ouvido do "comandante"?;
4. O caráter flutuante do câmbio
flutuante. Aqui o "Veja bem" é quase
dispensável. Vale para o presidente
Meirelles passar um pito professoral
em seus antecessores, que teimavam
em intervir no câmbio quando a cotação do dólar ameaçava explodir;
5. O arrocho fiscal com viés keynesiano. Bom, para esse item, confesso
que ainda não consegui encontrar
uma sugestão para ajudar o ministro
Mantega e o senador Mercadante.
Persistirei na busca.
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