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São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2003

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VINICIUS MOTA

O bordão que falta

SÃO PAULO - Falta ao governo Lula um slogan definitivo. FHC tinha um, memorável: "Avança, Brasil". Os marqueteiros tucanos eram obcecados pela idéia de movimento, de processo. Pena que a ordem que deram à nação tenha sido branda demais.
Duda Mendonça e companhia certamente não vão repetir os erros do passado. A um verbo de ação, preferirão um que sugira reflexão e, em vez do comando indolente, uma verdadeira ordem. Vem-me à cabeça, instantaneamente, o "Veja bem, Brasil".
Diante de um "Veja bem", o mais convicto inquisidor é levado a rever os seus conceitos e a descobrir ignorância onde pensava haver sapiência. O "Veja bem" é perfeito para o governismo petista dobrar meia dúzia de críticos. Aos exemplos:
1. A topologia da bravata de Lula. Se o presidente tivesse iniciado com um "Veja bem" a sua explanação acerca da liberdade do exercício do blefe na oposição, contrastante com a sua impossibilidade no poder, o assunto hoje já seria página virada;
2. A profunda preocupação de Palocci com o assalariado. Ao manifestar temeridade com o reajuste salarial em algumas categorias, o ministro estava apenas defendendo o interesse do trabalhador. Poderia ter dito algo como: "Veja bem, companheiro, muito salário no final das contas prejudica o próprio trabalhador";
3. A inovadora doutrina do sussurro diplomático. Para que precisamos demonstrar de público nossa ojeriza às mais recentes atrocidades cometidas por Fidel Castro, se podemos proferir as palavras diretamente, ao pé do ouvido do "comandante"?;
4. O caráter flutuante do câmbio flutuante. Aqui o "Veja bem" é quase dispensável. Vale para o presidente Meirelles passar um pito professoral em seus antecessores, que teimavam em intervir no câmbio quando a cotação do dólar ameaçava explodir;
5. O arrocho fiscal com viés keynesiano. Bom, para esse item, confesso que ainda não consegui encontrar uma sugestão para ajudar o ministro Mantega e o senador Mercadante. Persistirei na busca.


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