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São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

Brasília, 43

BRASÍLIA - Brasília faz 43 anos hoje. É a capital federal. Na realidade, trata-se do interior de Goiás.
A sucursal da Folha fica no centro. Há um shopping center em frente. É uma experiência almoçar lá. A barra da calça volta com carrapichos, e o sapato, sujo de terra. "Foi pescar?", perguntam-me. "Não, fui ao shopping comer", respondo.
Brasília ainda tem uma infinidade de terrenos vagos na sua área central. Descampados com grama rala e terra à vista. Há poucas calçadas. A opção é andar no asfalto e correr o risco de ser atropelado.
Não faltam só as calçadas. Produz-se pouco aqui. Mais da metade (52%) da população candanga ocupada está no setor de serviços. Servir ao governo é o sonho dourado: 34,3% são funcionários públicos.
Às vezes aparece um empreendedor. Há pouco tempo surgiu castanha de baru torrada em padarias e mercados. Baru é uma árvore do cerrado. Provei. O gosto é semelhante ao do amendoim, mas custava quatro vezes mais. Não deu muito certo. Tem sido difícil encontrar baru.
Outra curiosidade são os acidentes de trânsito. Mesmo que só uma lanterna quebre, os carros param no meio da pista onde se chocaram. É o costume. Não há pressa.
Brasília está incompleta, talvez, porque há poucos habitantes originais da terra. Só 43,94% dos candangos nasceram aqui. O resto veio de fora (27,87% do Nordeste; 1,47% da região Sul). Muita gente está sempre chegando ou saindo. Não há identidade histórica com o local.
A classe média adora. Não vê os pobres. No bairro chique, o Lago Sul, a renda familiar é de 66 salários mínimos. As cidades-satélites escondem os miseráveis a 30 km de distância.
Um show promovido hoje para comemorar o aniversário da cidade é com a banda Kid Abelha. Brasília está chegando aos anos 80. Festejou como nunca a ascensão de Lula. Como disse o empresário beneficiado pela liberação da publicidade de cigarro no GP de Fórmula 1, "isso é o Brasil". E Brasília é a sua melhor síntese.


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