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FERNANDO RODRIGUES
Brasília, 43
BRASÍLIA - Brasília faz 43 anos hoje. É a capital federal. Na realidade, trata-se do interior de Goiás.
A sucursal da Folha fica no centro.
Há um shopping center em frente. É
uma experiência almoçar lá. A barra
da calça volta com carrapichos, e o
sapato, sujo de terra. "Foi pescar?",
perguntam-me. "Não, fui ao shopping comer", respondo.
Brasília ainda tem uma infinidade
de terrenos vagos na sua área central.
Descampados com grama rala e terra
à vista. Há poucas calçadas. A opção
é andar no asfalto e correr o risco de
ser atropelado.
Não faltam só as calçadas. Produz-se pouco aqui. Mais da metade (52%)
da população candanga ocupada está no setor de serviços. Servir ao governo é o sonho dourado: 34,3% são
funcionários públicos.
Às vezes aparece um empreendedor. Há pouco tempo surgiu castanha de baru torrada em padarias e
mercados. Baru é uma árvore do cerrado. Provei. O gosto é semelhante ao
do amendoim, mas custava quatro
vezes mais. Não deu muito certo.
Tem sido difícil encontrar baru.
Outra curiosidade são os acidentes
de trânsito. Mesmo que só uma lanterna quebre, os carros param no
meio da pista onde se chocaram. É o
costume. Não há pressa.
Brasília está incompleta, talvez,
porque há poucos habitantes originais da terra. Só 43,94% dos candangos nasceram aqui. O resto veio de fora (27,87% do Nordeste; 1,47% da região Sul). Muita gente está sempre
chegando ou saindo. Não há identidade histórica com o local.
A classe média adora. Não vê os pobres. No bairro chique, o Lago Sul, a
renda familiar é de 66 salários mínimos. As cidades-satélites escondem os
miseráveis a 30 km de distância.
Um show promovido hoje para comemorar o aniversário da cidade é
com a banda Kid Abelha. Brasília está chegando aos anos 80. Festejou como nunca a ascensão de Lula. Como
disse o empresário beneficiado pela
liberação da publicidade de cigarro
no GP de Fórmula 1, "isso é o Brasil".
E Brasília é a sua melhor síntese.
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