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BRASÍLIA, 45 ANOS
Numa das passagens mais
conhecidas de seu "Tristes
Trópicos" (1955), Claude Lévi-Strauss comenta que as cidades do
Novo Mundo transmitem a sensação
de passar da barbárie à decrepitude
sem ter conhecido a civilização. O
antropólogo francês pensava em São
Paulo, que conhecera nos anos 30,
mas a observação serve a propósito
de Brasília, que faz hoje 45 anos.
A capital do país é muito jovem
-não chega ainda a ter meio século
de existência. Por isso, é ainda mais
impressionante o quanto já se distanciou do projeto histórico do qual
foi o maior emblema. Na sua origem, Brasília representou a síntese
do ideário nacional-desenvolvimentista. Sua construção significou a viabilidade e a promessa de uma nação
socialmente integrada.
A utopia inscrita nas linhas modernistas de Oscar Niemeyer e Lúcio
Costa, instaladas em pleno descampado do Planalto Central, alimentou
a crença de que a nova capital resumia o espírito de uma época que iria
solucionar os contrastes e antagonismos brasileiros, redimindo nossa
herança de desigualdades.
A ruptura de 1964 reduziu essa fantasia a pó. A comunhão nacional esboçada no período anterior revelou
ser ilusória, frágil, incapaz de resistir
à dinâmica excludente do país. Brasília se tornou, ao longo do ciclo de exceção, sinônimo de cidade fria e desumana, refratária às pressões sociais, uma ilha de tecnocratas apartada do país. Percebeu-se que sua arquitetura, majestosa e futurista, servia também à vocação autoritária.
Com a redemocratização, apareceu
uma outra cidade. Nela, o projeto
modernista original está duplamente
emparedado: de um lado, pela miséria, pela violência, pela explosão das
cidades-satélite e da favelização do
entorno da capital; de outro, pela irrupção não menos selvagem de
construções tipicamente pós-modernas, verdadeiros monstrengos arquitetônicos que parecem escarnecer
do sonho de Niemeyer.
Imaginada como símbolo de uma
nova civilização, Brasília acabou se
tornando uma espécie de museu precoce do que não conseguimos ser. A
capital foi engolida pelo Brasil.
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