São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 2005

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CRISE NO EQUADOR

A deposição de Lucio Gutiérrez da Presidência do Equador confirma o quadro crônico de instabilidade no país andino. Gutiérrez foi o nono ocupante do palácio presidencial desde 1996. Fora eleito em novembro de 2002, depois de ter liderado os protestos que resultaram na derrubada, dois anos antes, do governo de Jamil Mahuad.
Gutiérrez foi destituído pelo Congresso por 62 votos a 0. Para evitar um longo processo de impeachment, os parlamentares decretaram que ele abandonara o cargo. É um artifício parecido com o utilizado para depor, em 1997, o presidente Abdala Bucaram, que foi declarado louco.
Como seus antecessores, Gutiérrez cai por ter prometido muito e feito incomensuravelmente menos. Populista de esquerda, adotou, porém, uma política econômica conservadora. Viu-se beneficiado pela alta do petróleo, do qual o Equador é produtor, mas isso não bastou para reduzir os perversos efeitos sociais da dolarização de 1999. Sua popularidade despencou e o mandatário passou a indispor-se com o Judiciário. Gutiérrez, que tem a patente de coronel, caiu quando, em meio a protestos, o Exército enfim retirou-lhe o apoio.
Tratando-se do Equador e seu histórico de instabilidade, já nem é o caso de perguntar se foi Gutiérrez, o Congresso ou os militares quem violou primeiro a Constituição. Menos mal que o vice Alfredo Palacio tenha assumido o posto -o que circunscreve o grau de ruptura institucional.
A América Latina tem assistido à derrubada de mandatários em resultado de protestos populares. Além do Equador, já caíram assim presidentes da Bolívia (Sánchez de Lozada), da Argentina (Fernando de la Rúa), do Peru (Alberto Fujimori) e do Paraguai (Raúl Cubas). Manifestações de rua também ajudaram a destituir, via impeachment, o venezuelano Carlos Andrés Pérez e o brasileiro Fernando Collor de Mello. Seria exagero falar em fim do populismo, mas a tolerância com desmandos pela população parece ter diminuído.


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