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CRISE NO EQUADOR
A deposição de Lucio Gutiérrez da Presidência do Equador
confirma o quadro crônico de instabilidade no país andino. Gutiérrez
foi o nono ocupante do palácio presidencial desde 1996. Fora eleito em
novembro de 2002, depois de ter liderado os protestos que resultaram na
derrubada, dois anos antes, do governo de Jamil Mahuad.
Gutiérrez foi destituído pelo Congresso por 62 votos a 0. Para evitar
um longo processo de impeachment, os parlamentares decretaram
que ele abandonara o cargo. É um artifício parecido com o utilizado para
depor, em 1997, o presidente Abdala
Bucaram, que foi declarado louco.
Como seus antecessores, Gutiérrez
cai por ter prometido muito e feito
incomensuravelmente menos. Populista de esquerda, adotou, porém,
uma política econômica conservadora. Viu-se beneficiado pela alta do petróleo, do qual o Equador é produtor,
mas isso não bastou para reduzir os
perversos efeitos sociais da dolarização de 1999. Sua popularidade despencou e o mandatário passou a indispor-se com o Judiciário. Gutiérrez, que tem a patente de coronel,
caiu quando, em meio a protestos, o
Exército enfim retirou-lhe o apoio.
Tratando-se do Equador e seu histórico de instabilidade, já nem é o caso de perguntar se foi Gutiérrez, o
Congresso ou os militares quem violou primeiro a Constituição. Menos
mal que o vice Alfredo Palacio tenha
assumido o posto -o que circunscreve o grau de ruptura institucional.
A América Latina tem assistido à
derrubada de mandatários em resultado de protestos populares. Além
do Equador, já caíram assim presidentes da Bolívia (Sánchez de Lozada), da Argentina (Fernando de la
Rúa), do Peru (Alberto Fujimori) e do
Paraguai (Raúl Cubas). Manifestações de rua também ajudaram a destituir, via impeachment, o venezuelano Carlos Andrés Pérez e o brasileiro
Fernando Collor de Mello. Seria exagero falar em fim do populismo,
mas a tolerância com desmandos pela população parece ter diminuído.
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