São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Dor d'alma

ROMA - Transfiro hoje a coluna para o leitor J. L. Trindade (Curitiba). Suspeito que seu depoimento reflita as dores de petistas/lulistas que não são da "turma da boquinha". Vamos lá: "Filiei-me ao PT em 86, mas já era militante. Minha vida profissional foi sempre ligada à esquerda petista do Paraná, meus filhos nasceram e assimilaram as campanhas do Lula presidente. Tirávamos grana do bolso para comícios, tudo aquilo que você sabe". "Emprestei meu carro, uma Belina 87 novinha, para que um médico cardiologista ficasse em condições de atender o candidato ao segundo turno das eleições em Turvo (PR), onde visitou uma propriedade rural para mostrar apoio aos pequenos e médios agricultores que andavam com medo da reforma agrária." "Enfim, o Lula é de casa, familiar, embora nunca tenha falado com ele pessoalmente. Faz parte da nossa história, é um candidato que ajudamos a colocar onde está. Um membro da família." "E agora, o que sobra? Não é uma coisa só política. Nos envolvemos emocionalmente. É preciso fazer "luto" para aceitar que o que ajudamos a construir não é bom. É algo do qual nos envergonhamos." "Explica-se porque o PT perdeu as eleições municipais no Brasil e vai perder a reeleição. Porque gente como nós aqui do Paraná nem sequer votamos mais no PT, não sei se de raiva, decepção, desgosto." A carta contém ainda uma reclamação contra o salário de uma mulher de ministro, que cortei porque não tive como comprovar se era assim mesmo. O e-mail foi mandado horas antes da eleição do novo papa, o que explica que termine assim: "Grande abraço e torçamos por um papa que nos dê esperanças". Pois é, se a esperança havia vencido o medo, vê-se agora que o desgosto venceu a esperança, transferida para os negócios do céu.

@ - crossi@uol.com.br


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