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ELIANE CANTANHÊDE
Família feliz
BRASÍLIA - Faltou alguém na reunião dos chanceleres da América do
Sul, na terça-feira passada, em Brasília: Rafael Bielsa, da Argentina. Surpresa? Nem um pouco.
Na versão do Itamaraty, Bielsa não
veio ao Brasil "porque devia estar na
Alemanha, não é?". Não, não era. Ele
estava em Buenos Aires, mas preferiu
mandar o seu vice, Jorge Taiana. Preferiu porque preferiu.
A ausência de Bielsa lembra, e muito, uma outra bem recente: a do próprio presidente Néstor Kirchner, que
não deu as caras na Cúpula do Rio
(presidentes da América do Sul e do
Caribe), em novembro de 2004, alegando estar muito ocupado. Na verdade, estava com a agenda tão livre
que até se deixou fotografar, fagueiro, das janelas da Casa Rosada.
Para o Brasil, "a Argentina está se
isolando". A questão é que isso ajuda
a implodir o Mercosul, acaba de vez
com a Alca (aliás, alguém ainda fala
nisso?) e chama a atenção para a desagregação da América do Sul -o
principal pilar da política externa
"ativa e pró-ativa" do governo Lula.
Ontem, caiu mais um presidente do
Equador, desta vez Lucio Gutierrez.
Eleito com plataforma e aliados de
esquerda, ele descambou para o neoliberalismo. Perdeu os aliados da
campanha e não conquistou a confiança dos neo-aliados do governo. A
economia vai bem, mas a política vai
mal. A população reagiu, as Forças
Armadas lavaram as mãos, fechou-se
o cerco. Taí uma boa lição.
A crise não pára aí. O governo da
Bolívia está cai não cai. O do Peru
apenas sobrevive. A fronteira Colômbia-Venezuela vive de sobressaltos.
Sem contar que Chávez comemora
US$ 1 bilhão em armamentos obtidos
da Espanha e desfila com seus 30 mil
novos soldados. Uma milícia chavista. É um recado para alguém, provavelmente para os EUA.
Há, enfim, um continente em chamas. Justamente aquele em que Lula
exercita o papel de candidato a líder
mundial e em que vai recepcionar a
americana Condoleezza Rice na semana que vem e representantes de 22
países árabes no próximo mês.
@ - elianec@uol.com.br
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