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CARLOS HEITOR CONY
A igreja e o mundo
RIO DE JANEIRO - Não houve surpresa, mas não houve alegria, com a
eleição de Joseph Ratzinger para
substituir João Paulo 2º. Falando em
termos profanos, meramente políticos, ao cardeal alemão foram creditadas todas as restrições que marcaram o pontificado mais carismático
da história.
Na realidade, Ratzinger já era mais
do que uma eminência parda de
Wojtyla, mas um vice-papa, cuja influência cresceu sobretudo nos últimos anos de João Paulo 2º. Nesse particular, sua eleição poderia lembrar a
de Eugenio Pacelli, em 1939, para suceder a Pio 11. Desde a rapidez com
que os dois foram eleitos como no escancarado favoritismo entre os cardeais daquele tempo.
Pacelli havia sido a eminência parda do papa a que sucedeu. Nada se
fazia na igreja sem a sua anuência.
Era conservador até a medula, intelectual, aristocrático. Não havia, então, os desafios e a crise que hoje se
abatem sobre a igreja, mas o mundo
estava no limiar da Segunda Guerra
Mundial, na qual teria uma participação polêmica.
Também como Ratzinger, era o
cardeal mais conhecido mundialmente entre os cardeais daquela época. E aí vem a consideração que julgo
importante. Com erros ou acertos,
Pacelli não deixou a igreja naufragar, manteve com mão-de-ferro a
tradição, o dogma e a moral que herdara de seus antecessores.
Enfim, cumpriu a sua principal
missão. Para o mundo, continua até
hoje um papa discutido. Alguns chegam a amaldiçoá-lo, mas, para a
igreja, ele foi não o homem certo para
a hora certa, mas o homem adequado com tudo de bom e de ruim que isso possa significar.
Bento 16 está longe do carisma de
seu antecessor. É transparente, sabe-se o que pensa e o que julga melhor
para a igreja e para o mundo. Não foi
escolhido pelo mundo, mas pela e para a igreja. Fatalmente desagradará
o mundo. Ele será o primeiro a perceber isso. Mas foi esse o caminho que o
primeiro papa do século 21 escolheu e
que o marcará na história da igreja e
do mundo.
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