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Engenharia, a reengenharia do futuro
RICARDO VEIGA
A falta de investimentos nessa área representa uma retração importante dos potenciais tecnológico e inovador nacionais
TRAZER A realização da Convenção Mundial de Engenheiros de
2008 para o Brasil é obter uma
grande conquista e, ao mesmo tempo,
impor-nos um respeitável desafio.
O Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia),
a Febrae (Federação Brasileira de Associações de Engenheiros) e a WFEO
(Federação Mundial de Engenheiros)
assumiram o compromisso de organizá-la com sucesso igual ou ainda
maior que o das versões anteriores,
em Hannover (Alemanha) e Xangai
(China).
Nos primeiros três anos de preparação, investimos muita energia, esforço e responsabilidade de envergadura correspondente às expectativas
que precedem o maior e mais importante evento da engenharia mundial.
Para o Brasil, um acontecimento
nessa área e desse porte é, em primeiro lugar, conseqüência do interesse
crescente pela engenharia no país.
Em segundo lugar, demonstra a relevância do tema em questão, "Inovação com Responsabilidade Social", no
dia-a-dia de atores corporativos, entidades de representação da categoria e
até mesmo de órgãos públicos.
Por último, confirma a ascensão do
Brasil ao oitavo lugar no ranking dos
países que mais recebem eventos internacionais, segundo dados recém-divulgados pela Associação Internacional de Congressos e Convenções.
Prova-nos que a engenharia é a profissão do futuro por um motivo nobre:
caminhando lado a lado com o compromisso social, esclarece-se a verdadeira dimensão do exercício profissional de um engenheiro.
O Confea, que hoje reúne um universo de 900 mil profissionais, 200
mil empresas e mais de 1,2 mil entidades, tem consciência da necessidade
de realizar um congresso à altura da
engenharia brasileira.
A engenharia, aliás, trata-se de um
diálogo universal, que faz interfaces
com todos os temas rodeados pela
idéia de futuro sustentável: indústria,
infra-estrutura, água, saúde, energia,
habitação, biodiversidade.
Por ser atividade considerada essencial ao processo de inovação tecnológica, a falta de investimentos
nessa área representa retração importante dos potenciais tecnológico e
inovador nacionais: é o que ocorre hoje com o Brasil, o chamado "apagão do
conhecimento", situação caracterizada por profunda escassez de profissionais qualificados no mercado.
Os números revelam por que o cenário é tão grave: por causa do aquecimento econômico e o conseqüente
aumento da demanda por grandes
obras de infra-estrutura no país, hoje
o déficit de engenheiros no mercado
brasileiro ultrapassa os 45 mil, constituindo uma das principais barreiras
ao bom andamento do PAC. Com isso,
já neste ano importaremos mais profissionais estrangeiros para gerenciar
grandes construções, em vez de contratar engenheiros brasileiros.
Enquanto o Brasil forma 23 mil engenheiros por ano, o que representa
um terço da demanda atual no país, a
Coréia do Sul forma 80 mil. Enquanto
o Brasil tem cerca de 6 engenheiros
para cada 1.000 pessoas economicamente ativas, EUA e Japão têm cerca
de 25. Com o mercado inflacionado,
os salários sobem e a categoria vem
recuperando o prestígio e o reconhecimento por sua importância social.
No esteio dessa revalorização profissional, Brasília passará de capital
brasileira a capital mundial da engenharia, recebendo de 2 a 6 de dezembro mais de 5.000 participantes vindos dos cinco continentes. Serão profissionais, estudantes e pesquisadores participando de fóruns, palestras
e visitas técnicas, todos norteados pelas discussões de meio ambiente, futuro e engenharia sustentável.
No encontro, teremos a oportunidade ímpar de planejar a consecução
dos Oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Estaremos obstinados em buscar especialmente o sétimo objetivo, que é a garantia da sustentabilidade ambiental.
Será o momento de mostrar ao
mundo como podemos, juntos -engenheiros, empresas, entidades de
classe, instituições de ensino e governo- superar os maiores problemas
do nosso tempo. Caminhamos com
celeridade para estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento, visando alcançar transformações
econômicas, sociais e ambientais.
A experiência de pensar as grandes
questões da humanidade, conhecendo nossas fragilidades e potencialidades, é o que pretendemos mostrar na
WEC 2008 (Convenção Mundial de
Engenheiros, na sigla em inglês). A associação das mais avançadas tecnologias, da preservação ambiental e da
erradicação da pobreza é a tríplice
bandeira levantada por Confea, Febrae e WFEO.
São menos de nove meses que nos
separam de um imperdível encontro
com o futuro.
RICARDO VEIGA, 65, professor emérito da Faculdade de
Ciências Agronômicas da Unesp (campus de Botucatu), é
presidente em exercício do Confea (Conselho Federal de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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