São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2008

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Engenharia, a reengenharia do futuro

RICARDO VEIGA

A falta de investimentos nessa área representa uma retração importante dos potenciais tecnológico e inovador nacionais

TRAZER A realização da Convenção Mundial de Engenheiros de 2008 para o Brasil é obter uma grande conquista e, ao mesmo tempo, impor-nos um respeitável desafio.
O Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), a Febrae (Federação Brasileira de Associações de Engenheiros) e a WFEO (Federação Mundial de Engenheiros) assumiram o compromisso de organizá-la com sucesso igual ou ainda maior que o das versões anteriores, em Hannover (Alemanha) e Xangai (China).
Nos primeiros três anos de preparação, investimos muita energia, esforço e responsabilidade de envergadura correspondente às expectativas que precedem o maior e mais importante evento da engenharia mundial. Para o Brasil, um acontecimento nessa área e desse porte é, em primeiro lugar, conseqüência do interesse crescente pela engenharia no país.
Em segundo lugar, demonstra a relevância do tema em questão, "Inovação com Responsabilidade Social", no dia-a-dia de atores corporativos, entidades de representação da categoria e até mesmo de órgãos públicos.
Por último, confirma a ascensão do Brasil ao oitavo lugar no ranking dos países que mais recebem eventos internacionais, segundo dados recém-divulgados pela Associação Internacional de Congressos e Convenções.
Prova-nos que a engenharia é a profissão do futuro por um motivo nobre: caminhando lado a lado com o compromisso social, esclarece-se a verdadeira dimensão do exercício profissional de um engenheiro.
O Confea, que hoje reúne um universo de 900 mil profissionais, 200 mil empresas e mais de 1,2 mil entidades, tem consciência da necessidade de realizar um congresso à altura da engenharia brasileira.
A engenharia, aliás, trata-se de um diálogo universal, que faz interfaces com todos os temas rodeados pela idéia de futuro sustentável: indústria, infra-estrutura, água, saúde, energia, habitação, biodiversidade.
Por ser atividade considerada essencial ao processo de inovação tecnológica, a falta de investimentos nessa área representa retração importante dos potenciais tecnológico e inovador nacionais: é o que ocorre hoje com o Brasil, o chamado "apagão do conhecimento", situação caracterizada por profunda escassez de profissionais qualificados no mercado.
Os números revelam por que o cenário é tão grave: por causa do aquecimento econômico e o conseqüente aumento da demanda por grandes obras de infra-estrutura no país, hoje o déficit de engenheiros no mercado brasileiro ultrapassa os 45 mil, constituindo uma das principais barreiras ao bom andamento do PAC. Com isso, já neste ano importaremos mais profissionais estrangeiros para gerenciar grandes construções, em vez de contratar engenheiros brasileiros.
Enquanto o Brasil forma 23 mil engenheiros por ano, o que representa um terço da demanda atual no país, a Coréia do Sul forma 80 mil. Enquanto o Brasil tem cerca de 6 engenheiros para cada 1.000 pessoas economicamente ativas, EUA e Japão têm cerca de 25. Com o mercado inflacionado, os salários sobem e a categoria vem recuperando o prestígio e o reconhecimento por sua importância social.
No esteio dessa revalorização profissional, Brasília passará de capital brasileira a capital mundial da engenharia, recebendo de 2 a 6 de dezembro mais de 5.000 participantes vindos dos cinco continentes. Serão profissionais, estudantes e pesquisadores participando de fóruns, palestras e visitas técnicas, todos norteados pelas discussões de meio ambiente, futuro e engenharia sustentável.
No encontro, teremos a oportunidade ímpar de planejar a consecução dos Oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Estaremos obstinados em buscar especialmente o sétimo objetivo, que é a garantia da sustentabilidade ambiental.
Será o momento de mostrar ao mundo como podemos, juntos -engenheiros, empresas, entidades de classe, instituições de ensino e governo- superar os maiores problemas do nosso tempo. Caminhamos com celeridade para estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento, visando alcançar transformações econômicas, sociais e ambientais.
A experiência de pensar as grandes questões da humanidade, conhecendo nossas fragilidades e potencialidades, é o que pretendemos mostrar na WEC 2008 (Convenção Mundial de Engenheiros, na sigla em inglês). A associação das mais avançadas tecnologias, da preservação ambiental e da erradicação da pobreza é a tríplice bandeira levantada por Confea, Febrae e WFEO.
São menos de nove meses que nos separam de um imperdível encontro com o futuro.


RICARDO VEIGA, 65, professor emérito da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp (campus de Botucatu), é presidente em exercício do Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia).

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