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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Monstros urbanos
SÃO PAULO - No "Painel do Leitor" de ontem, Felipe Augusto Vicari de Carli argumenta que a pichação parece "brincadeira de adolescentes" quando comparada à ação
do setor imobiliário e seus "monstrengos a tantos metros do chão".
Curitibano, ele dá o exemplo de um
novo edifício "desses envidraçados", com um "globo bizarro" no
cume -"cinza, cinza, todinho insossamente cinza". A carta é boa.
Divergimos sobre os pichadores.
Por que ver mera "brincadeira" na
destruição do bem público ou do
patrimônio alheio? Posso entender
a motivação desses jovens, mas não
reconheço força crítica ou "arte"
nas mensagens furiosas e monótonas desses artesãos do niilismo.
O leitor, porém, tem razão quando lança luz sobre a predação em
escala industrial das cidades. Ela
não é obra de garotos pobres, mas
de certos donos do dinheiro, na
maioria das vezes com a mão amiga
do poder público. E nesse ponto São
Paulo talvez seja um exemplo bem
mais triste do que Curitiba.
A cidade se move na base dos surtos imobiliários, não segundo qualquer noção de bem público ou critérios de planejamento. Do antigo
centro para a avenida Paulista e dela para a Berrini e a marginal, a riqueza se desloca deixando atrás de
si regiões depreciadas, quando não
verdadeiros cemitérios urbanos. A
história de São Paulo, de certa forma, é uma sucessão de abandonos.
Referências arquitetônicas? Nem
pensar. O Masp é justamente isso:
um museu moderno. Estamos (cada vez) mais para um amontoado de
ostentação e miséria. Favelas convivem com condomínios fechados
de luxo, "mansões verticais" neoclássicas e espigões espelhados.
Cultivamos uma arquitetura cafona, agressiva, muito excludente.
Já é quase um clichê em certos
círculos paulistanos criticar Brasília no aniversário dos seus 50 anos.
Na capital do país, a distância entre
o que ela prometia e o que se tornou
ainda incomoda e escandaliza. Na
capital do dinheiro, "terra de oportunidades", a utopia sempre pertenceu à esfera privada. E nossas
aberrações são parte da paisagem.
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