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RUY CASTRO
Zero hora para a mudança
RIO DE JANEIRO - À zero hora
de 21 de abril de 1960, os sinos das
igrejas cariocas repicaram. Ranchos, blocos e escolas de samba tomaram a avenida Rio Branco num
segundo Carnaval. Bandas de música saíram às ruas tocando "Cidade
Maravilhosa", novo hino oficial. Fábricas apitaram, carros buzinaram
e houve foguetório nos morros e no
asfalto. A cidade saudava a transferência da capital e a inauguração de
Brasília, mas principalmente a criação do Estado da Guanabara -a libertação do Rio.
Hoje, parece incrível que o Rio
aprovasse a perda da sua condição
de capital, mas foi assim. Primeiro,
porque não se acreditava que houvesse uma perda: os ministérios, o
corpo diplomático e o próprio Congresso continuariam aqui por tempo indeterminado -nenhum político trocaria a Corte por um ermo
sem telefone, hotéis, restaurantes,
boates, teatros, livrarias, boutiques
e onde, para comprar um lápis ou
um retrós, era preciso tomar o carro e comer poeira.
Ao mesmo tempo, o Rio, como cidade-Estado, conquistaria a autonomia pela qual sempre lutara. O
carioca poderia finalmente eleger
seus governantes, capazes de cuidar
de buracos de rua ou da falta d'água,
sem prejuízo de sua vocação nacional, atlântica e cosmopolita.
Só não se contava com as falsetas
da história. De 1961 a 1965, Carlos
Lacerda, primeiro governador da
Guanabara, ajudou a derrubar Jânio Quadros e João Goulart, e rompeu com Castello Branco, primeiro
presidente militar. Os generais-ditadores seguintes, temendo a oposição no Rio, efetivaram a transição
para Brasília, onde podiam governar sem a opinião pública.
Para acabar de esvaziar politicamente o Rio, Ernesto Geisel, em
1975, fundiu a Guanabara com o velho Estado do Rio sem consultar cariocas e fluminenses. Foi pior para
o Rio e pior para o Brasil.
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