São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES Caiu a máscara
JOSÉ ARISTODEMO PINOTTI
Desculpem-me as viúvas do neoliberalismo, mas esse é o resumo da situação herdada pelo atual governo e, seguramente, não será com a adoção do mesmo modelo econômico entrópico e social enganador que vamos resolvê-la. O continuísmo poderá, até estratégica e temporariamente, diminuir o risco Brasil, através do aumento de juros e superávit primário, que favorecem o capital; porém podem ter certeza: toda vez que houver diminuição do risco Brasil, aumentará para todos o risco de viver no Brasil. Está certo nosso presidente quando se dispõe a fazer uma inserção "ativa e criativa" na globalização, em substituição à "passiva e subalterna" anterior. Somos um país continental, com quase 200 milhões de habitantes e uma invejável infra-estrutura, e podemos praticar uma negociação dura, informada e inteligente, sem chegar à ruptura, "Não podemos tudo, mas podemos muito mais", são palavras do presidente Lula que rompem educadamente com a tola "transição civilizada". Se continuar nessa linha de ousadia sem perder a prudência, aproximando-se da socrática e difícil temperança, mais cedo do que se pensa negociaremos melhor a dívida, desenvolveremos uma tendência de diminuição dos juros e do superávit primário, que gerará desenvolvimento, empregos e mais recursos para as políticas públicas essenciais. Mas isso não basta. Será preciso muita criatividade e competência para mudar radicalmente a sua estratégia e gerenciamento a fim de, com poucos recursos em acréscimo, dar a eles um direcionamento de igualdade e continuidade -que só se consegue com abordagem holística e modificações estruturais-, oferecendo cidadania a todos e fugindo dessa discussão diversionista que contrapõe focalização e universalização, pois o que interessa é equanimidade e, para obtê-la, deve-se integrar de forma inteligente ambos os enfoques, tratando desiguais de formas distintas para diminuir as desigualdades. Não devemos esquecer que políticas públicas eficientes geram empregos, constituem um forte vetor de redistribuição de renda e alavancam crescimento econômico "igualizador" e includente. Esse foi o compromisso do novo governo, recentemente reforçado em discurso do presidente, quando, respirando o ar dos inconfidentes, disse: "O direito à vida e tudo o que ela implica não podem ser objeto de compra e venda". Estou certo de que a promessa será cumprida no devido tempo. É esperar, confiar, ajudar e continuar pressionando. José Aristodemo Pinotti, 68, deputado federal pelo PMDB-SP, é professor titular de ginecologia da Faculdade de Medicina da USP. Foi secretário da Educação (1986-87) e da Saúde (1987-91) do Estado de São Paulo, secretário da Saúde do município de São Paulo (2000) e reitor da Unicamp (1982-1986). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Clarice Messer e Roberto Luis Troster: Democracia da moeda, já Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
|