São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

C'est la guerre!

RIO DE JANEIRO - O ideal seria a desnecessidade da negociação.
Numa situação concreta, como a do confronto entre o Primeiro Comando da Capital -o PCC- e o Estado, na semana passada, o recurso de um compromisso entre as partes não seria uma novidade. No varejo, em casos isolados, houve negociação, que liberou vítimas e não impediu a prisão e a punição dos bandidos, como no episódio dos seqüestros de empresários como Abílio Diniz e Silvio Santos.
Toda vez que estoura um caso igual ao de agora, com bandidos contra o Estado, a primeira atitude das autoridades é declarar que não haverá negociação com o crime. Uma atitude de macho, que coloca a primazia da ordem acima de tudo, dando a entender que o sacrifício de vidas é o preço que se deve pagar para que seja garantida a soberania do Estado.
É bem verdade que o Estado é quase uma abstração, uma pessoa jurídica. Quem sangra nas ruas são pessoas físicas. O Estado tem muito a perder, para não dizer que tem tudo a perder, uma vez que vê contestada a sua autoridade legal e moral.
O cidadão que tem a sua casa invadida, se reage com arma na mão, comumente é sacrificado. Ele tentará negociar a própria vida, e a vida de sua família, na base do leva isso ou aquilo. Mais tarde, procurará recuperar o que lhe foi roubado e tomará medidas para que sua casa não sofra novo assalto.
O Estado faria o mesmo, principalmente na tomada de medidas que impeçam o novo confronto.
Como nas guerras, o confronto (Estado x PCC) só acabará com a vitória de um dos lados. Vencerá o mais forte e o mais inteligente.
No dia-a-dia da onda de violência que atravessamos, o Estado continua sendo o mais forte, mas não o mais inteligente.


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