São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Lula e a PF: modos de usar

SÃO PAULO - Diante da eficiência espetacular da PF, é o caso de perguntar: qual era mesmo a origem do dinheiro (mais de milhão) encontrado com petistas que planejaram a compra de um dossiê e uma entrevista contra adversários tucanos na campanha eleitoral de 2006?
A PF investigou, mas nada concluiu. O dinheiro caiu do céu, de quem era até hoje ninguém sabe, ninguém viu. O fiasco poderia ser batizado de Operação Jack Palance -acredite se quiser.
Isso posto, também é fato que a Polícia Federal protagoniza capítulos importantes deste governo e da história recente do país. Há um mês foi desbaratada uma quadrilha que vinha operando no Judiciário, com acesso até o topo daquele Poder.
Agora, depois da Têmis e de outras ações de menor impacto, é a vez da Operação Navalha. Diante dela, o escândalo dos sanguessugas, baseado no superfaturamento de ambulâncias, parece coisa de trombadinha, troco de deputado.
Igualmente capilarizada, a teia de corrupção identificada pela Navalha atravessa diversas instâncias e esferas da administração pública e envolve mais dinheiro e figuras mais poderosas do meio político. Trata-se, obviamente, de um avanço republicano: as leis devem valer para todos.
Um retrospecto da atuação da PF sob Lula mostraria que, se ela desde o início agiu com mais desprendimento do que fazia nos anos FHC, foi a partir da crise do mensalão que ganhou notoriedade. Ali, quando o PT viveu sua ruína moral e o governo viu derreter sua base no Congresso, a PF passou a ser peça da sustentação política de Lula, uma âncora da legitimidade ameaçada.
Curioso é o paradoxo do país: desde o mensalão, a PF até ampliou seu espaço e sua força no governo, mas Lula e o PT não fizeram nenhuma ruptura com o sistema político clientelista e corrupto, este mesmo que a Navalha acaba de flagrar. A questão então é: para cada Zuleido preso, quantos Zuleidos e agregados o país continua a produzir?


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