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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lula e a PF: modos de usar
SÃO PAULO - Diante da eficiência
espetacular da PF, é o caso de perguntar: qual era mesmo a origem do
dinheiro (mais de milhão) encontrado com petistas que planejaram
a compra de um dossiê e uma entrevista contra adversários tucanos na
campanha eleitoral de 2006?
A PF investigou, mas nada concluiu. O dinheiro caiu do céu, de
quem era até hoje ninguém sabe,
ninguém viu. O fiasco poderia ser
batizado de Operação Jack Palance
-acredite se quiser.
Isso posto, também é fato que a
Polícia Federal protagoniza capítulos importantes deste governo e da
história recente do país. Há um mês
foi desbaratada uma quadrilha que
vinha operando no Judiciário, com
acesso até o topo daquele Poder.
Agora, depois da Têmis e de outras ações de menor impacto, é a
vez da Operação Navalha. Diante
dela, o escândalo dos sanguessugas,
baseado no superfaturamento de
ambulâncias, parece coisa de trombadinha, troco de deputado.
Igualmente capilarizada, a teia de
corrupção identificada pela Navalha atravessa diversas instâncias e
esferas da administração pública e
envolve mais dinheiro e figuras
mais poderosas do meio político.
Trata-se, obviamente, de um avanço republicano: as leis devem valer
para todos.
Um retrospecto da atuação da PF
sob Lula mostraria que, se ela desde
o início agiu com mais desprendimento do que fazia nos anos FHC,
foi a partir da crise do mensalão que
ganhou notoriedade. Ali, quando o
PT viveu sua ruína moral e o governo viu derreter sua base no Congresso, a PF passou a ser peça da
sustentação política de Lula, uma
âncora da legitimidade ameaçada.
Curioso é o paradoxo do país:
desde o mensalão, a PF até ampliou
seu espaço e sua força no governo,
mas Lula e o PT não fizeram nenhuma ruptura com o sistema político
clientelista e corrupto, este mesmo
que a Navalha acaba de flagrar. A
questão então é: para cada Zuleido
preso, quantos Zuleidos e agregados o país continua a produzir?
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