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ELIANE CANTANHÊDE
Impasse
BRASÍLIA - Enquanto o Brasil bate de frente com os EUA, uma sensação se consolida mundo afora:
com ou sem o acordo mediado pelo
Brasil, com ou sem as sanções engendradas pelos EUA, o regime da
dupla Kamenei-Ahmadinejad vai
acabar fabricando a bomba atômica. E seja o que Deus quiser.
Pelo acordo, o Irã enriquece levemente uma parte do seu urânio, envia para a Turquia e recebe de volta
para uso civil. Isso significa que o
Irã decidiu parar de enriquecer o
resto de seu urânio e de se habilitar
a ter a bomba? Improvável.
Já as sanções articuladas no Conselho de Segurança da ONU pelos
EUA preveem controle de financiamentos e transações bancárias,
além de venda e trânsito de armas.
E daí? É suficiente para amedrontar os iranianos? Ou, ao contrário,
só irá justificar um aprofundamento das pesquisas nucleares?
Ao entrar e ir tão fundo nas negociações com o Irã, o Brasil busca um
(abstrato) protagonismo internacional e uma (concreta) cadeira
permanente no Conselho de Segurança, ora tateando, ora extrapolando limites. O resultado é que o
país está no foco da tensão internacional -e se contrapondo à maior
potência. Os EUA ficaram de um lado, o Brasil, do outro.
Aliás, não deixa de ser curiosa a
pressa dos americanos. O acordo foi
num dia e, já no dia seguinte, os
EUA lideravam a reunião do Conselho pró-sanções. Soou como uma
certa "dor de cotovelo" pela capacidade de ação brasileira, junto com
um: "Ponha-se no seu lugar!".
O desequilíbrio é enorme. Segundo balanço da França, só 3 dos 15
países do Conselho (com assentos
permanentes ou rotativos) são contra as sanções: Brasil, Turquia e Líbano. Todos os demais fecharam
com os EUA, pró-sanções, enquanto o Irã parece dar de ombros.
O Brasil, pois, ganha tanto os holofotes como o risco de perder feio.
Ao tentar evitar o isolamento do
Irã, pode estar se isolando junto
com ele. Típico abraço de afogados.
elianec@uol.com.br
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