São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Patrimônio ameaçado LUÍS RAUL WEBER ABRAMO, JOÃO C. A. BARATA e CARLA GOLDMAN
Um dos componentes centrais de
qualquer instituição de ensino e
pesquisa é a facilidade de acesso a informações que a mesma propicia. Mesmo
em áreas novas de pesquisa, é comum
recorrer a resultados e publicações de
anos ou décadas atrás, pois a informação científica não é descartável e é da
natureza da atividade científica ancorar
seu progresso em trabalho anterior.
A despeito das graves questões acima, o Sistema Integrado de Bibliotecas da USP (Sibi/USP), órgão central ligado à reitoria e responsável pelo gerenciamento de aquisições de todas as bibliotecas da universidade, vem tomando medidas que ferem o interesse dos seus pesquisadores, estudantes e da sociedade em geral. De maneira unilateral, apesar de protestos de vários docentes e sob alegação de duvidosas medidas de economia, o Sibi/USP decidiu eliminar duplicações de assinaturas de periódicos impressos que possuam versão eletrônica. Essa atitude atinge duramente unidades separadas por centenas de quilômetros, como os institutos de Física da capital e de São Carlos. Em novembro de 2002, o Sibi/USP anunciou que manteria apenas uma assinatura em papel de cerca de 50 publicações com acesso eletrônico da área de física, outorgando a assinatura da versão impressa à unidade que dispusesse do maior acervo de cada publicação. A unidade "perdedora" passaria a dispor apenas de acesso às versões eletrônicas. Dentre os títulos cortados encontram-se algumas das mais importantes publicações científicas internacionais, tais como "Science" e "Nature". Tais medidas são míopes, pelo empobrecimento imediato que causam às bibliotecas e por ignorarem os efeitos a curto e longo prazo, mencionados acima. Essas perdas podem se tornar irreversíveis, caso as medidas não sejam imediatamente revistas e as coleções recompostas. Durante seus 70 anos de existência, a USP construiu algumas das melhores bibliotecas do país, patrimônio do Estado de São Paulo e nacional. A forma com que o Sibi/USP tem tratado essas questões, ignorando apelos bem fundamentados de pesquisadores da USP, não faz justiça à tradição da nossa universidade. A USP deve urgentemente rever a estrutura de funcionamento daquele órgão, tornando-o mais sensível ao interesse maior da universidade e da população a que deveria servir. Luís Raul Weber Abramo, 35, doutor pela Universidade Brown (EUA), João C. A. Barata, 42, doutor pela Universidade Livre de Berlim (Alemanha) e Carla Goldman, 43, doutora pela USP, são professores do Instituto de Física da USP. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Oded Grajew: Trabalho decente? Só redistribuindo renda Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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