São Paulo, sábado, 21 de julho de 2007

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ACM

O SENADOR Antonio Carlos Magalhães participou da política brasileira ao longo dos últimos 50 anos. Parlamentar, prefeito de Salvador, governador da Bahia em três mandatos, ministro de Estado e presidente do Senado, exerceu influência nacional seja durante o regime militar, seja após a democratização de 1985 -além de predominar na política baiana por quase quatro décadas.
Poucos políticos foram tão amados e odiados; poucas trajetórias enfeixaram aspectos tão contraditórios.
ACM foi um dos sustentáculos regionais do regime militar, período em que se formou o domínio de tipo oligárquico que ele exerceu na Bahia, recorrendo não raro a métodos autoritários, à intimidação de adversários e ao uso da máquina oficial para se perpetuar no poder. Seu mandarinato também se apoiava nas alianças que o senador sempre buscou manter com o poder federal, bem como na manipulação da mídia local, da qual ele era em parte proprietário.
Mas ACM também foi uma das pontes na transição pacífica da ditadura à democracia, quando teve a argúcia de insuflar, em 1984, a dissidência no partido oficial que assegurou a vitória do oposicionista Tancredo Neves nas eleições indiretas do ano seguinte, as quais selaram o fim do período militar.
A partir daí ACM emergiu como liderança dotada de indiscutível respaldo popular em seu Estado, numa evidência de que setores expressivos da população, sobretudo a mais carente, aprovavam seu modo de fazer política ou ao menos consideravam sua atuação benéfica para o Estado.
Sob influência por muitos atribuída a seu filho e herdeiro político Luís Eduardo, morto prematuramente em 1998, ACM amenizou os traços mais truculentos de sua personalidade. Embora não tenha feito a revolução administrativa que admiradores lhe creditam, não há dúvida de que a Bahia se desenvolveu sob sua hegemonia nem de que ele tenha revelado um punhado de bons gestores, comprometidos com métodos mais modernos de administração pública.
Antonio Carlos Magalhães foi um expoente da elite política brasileira, tanto no que ela possa ter de retrógrado, patrimonialista e autoritário, como na sua capacidade de conciliar diferenças, de se adaptar a novos tempos e de encarnar, em momentos decisivos, as aspirações e os sentimentos populares.


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