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ACM
O SENADOR Antonio Carlos
Magalhães participou da
política brasileira ao longo dos últimos 50 anos. Parlamentar, prefeito de Salvador, governador da Bahia em três mandatos, ministro de Estado e presidente do Senado, exerceu influência nacional seja durante o
regime militar, seja após a democratização de 1985 -além de predominar na política baiana por
quase quatro décadas.
Poucos políticos foram tão
amados e odiados; poucas trajetórias enfeixaram aspectos tão
contraditórios.
ACM foi um dos sustentáculos
regionais do regime militar, período em que se formou o domínio de tipo oligárquico que ele
exerceu na Bahia, recorrendo
não raro a métodos autoritários,
à intimidação de adversários e ao
uso da máquina oficial para se
perpetuar no poder. Seu mandarinato também se apoiava nas
alianças que o senador sempre
buscou manter com o poder federal, bem como na manipulação
da mídia local, da qual ele era em
parte proprietário.
Mas ACM também foi uma das
pontes na transição pacífica da
ditadura à democracia, quando
teve a argúcia de insuflar, em
1984, a dissidência no partido
oficial que assegurou a vitória do
oposicionista Tancredo Neves
nas eleições indiretas do ano seguinte, as quais selaram o fim do
período militar.
A partir daí ACM emergiu como liderança dotada de indiscutível respaldo popular em seu
Estado, numa evidência de que
setores expressivos da população, sobretudo a mais carente,
aprovavam seu modo de fazer
política ou ao menos consideravam sua atuação benéfica para o
Estado.
Sob influência por muitos atribuída a seu filho e herdeiro político Luís Eduardo, morto prematuramente em 1998, ACM amenizou os traços mais truculentos
de sua personalidade. Embora
não tenha feito a revolução administrativa que admiradores
lhe creditam, não há dúvida de
que a Bahia se desenvolveu sob
sua hegemonia nem de que ele
tenha revelado um punhado de
bons gestores, comprometidos
com métodos mais modernos de
administração pública.
Antonio Carlos Magalhães foi
um expoente da elite política
brasileira, tanto no que ela possa
ter de retrógrado, patrimonialista e autoritário, como na sua capacidade de conciliar diferenças,
de se adaptar a novos tempos e
de encarnar, em momentos decisivos, as aspirações e os sentimentos populares.
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