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CLÓVIS ROSSI
Meu Brasil inzoneiro
SÃO PAULO - Em todo lugar do
mundo, equipamento público é para ser usado de manhã, de tarde e de
noite, faça sol ou chova. Menos, é
claro, em condições extremas, como nevascas, tufão, tsunami.
No Brasil, não. Há um elevado em
São Paulo, um tal de "Minhocão",
que fecha à noite, pela simples e boa
razão de que passa literalmente ao
pé do ouvido de milhares de moradores dos prédios que ficam em seu
percurso.
Há um túnel que abre em determinado horário em um sentido e,
em outro horário, no sentido inverso. O motorista que não usa esse
equipamento todos os dias, a ponto
de memorizar os horários, é obrigado a levar no carro, além do mapa
da cidade, um "timetable" do túnel,
como esses das companhias aéreas
(que, no Brasil, aliás, já não servem
para nada porque quase nenhum
vôo sai ou chega no horário).
Há também um aeroporto em
que, quando chove, alguém mede a
lâmina d'água na pista. Maior que x,
ela é interditada. Parece, em pleno
século da tecnologia, índio de filme
americano botando o ouvido no
chão para "sentir" o tropel dos cavalos do 7º de Cavalaria.
O pior, nesse curioso país, nem
são essas anomalias urbanas e aéreas. O pior é que todo mundo se
acostumou. Ninguém reclama, ninguém nem sequer conta, como piada para estrangeiro, essas histórias
do país tropical.
O Brasil raramente enfrenta os
problemas; dá a volta neles.
Veja-se o caso de Congonhas. Dizem que é seguro. Talvez seja, menos em emergências. Transplante-se para Cumbica a situação do avião
da TAM: teria pista suficiente para
rodar e rodar até parar de uma vez,
mesmo que fosse na grama. Ou para
ganhar velocidade até arremeter
sem topar com um prédio na primeira esquina.
Mas as autoridades preferem reduzir o peso máximo autorizado
para aviões, rodeando o toco, em
vez de encarar o problema.
crossi@uol.com.br
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